Como a privatização da Copel (CPLE6) poderá afetar as estatais?

Segundo analistas, a privatização da Copel não levará a uma onda de privatizações estaduais

Desde a reeleição do governador paranaense Ratinho Jr. (PSD), o mercado vem trabalhando com a possibilidade da Copel (CPLE6), uma das companhias elétricas mais importantes do Brasil, ser privatizada. Em 21 de novembro, o governo do Paraná confirmou as expectativas dos investidores e anunciou que iria realizar uma oferta de ações para desestatizar a empresa. Três dias depois, a Assembleia Legislativa do Paraná aprovou a proposta do governo paranaense de privatização. 

Segundo analistas consultados pelo BP Money, a privatização da Copel dificilmente levará a uma onda de privatizações estaduais. Desde o fim das eleições de 2022, os agentes financeiros têm precificado ações de algumas empresas estaduais, como Sabesp (SBSP3) e Cemig (CMIG4). Além de Ratinho Jr, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Romeu Zema (Novo), governadores eleitos por São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, demonstraram ter um viés liberal.

Desestatização da Copel não deve levar a outras privatizações

De acordo com especialistas consultados pelo BP Money, o processo de privatização da Copel não irá causar possíveis vendas de outras companhias estaduais, como Sabesp e Cemig. Eles alegam que são processos independentes, com assembléias diferentes. 

“As privatizações de outras companhias são, de certa forma, independentes do que vai acontecer na Copel. A desestatização de outras companhias estaduais depende mais da estratégia dos governadores. Vai depender também da composição parlamentar, se os deputados vão oferecer resistência ou vão apoiar com bastante intensidade essas decisões de privatizar essas empresas estaduais”, explicou Ricardo Buratini, doutor em economia e coordenador do Núcleo de Estudos em Economia da Energia da Facamp. 

Apesar de reconhecer que são processos independentes, Luan Alves, analista Chefe da VG Research, acredita que os governadores eleitos em São Paulo e Minas Gerais irão avançar nas pautas de privatizações nos próximos anos.

“São processos distintos, dependem dos respectivos governos estaduais. A Sabesp é um caso que deve avançar nas discussões em 2023. A Cemig, por outro lado, possui outros desafios em Minas Gerais, como a aprovação em uma assembleia mais à esquerda. Mas é do interesse dos governadores Tarcísio e Romeu Zema avançar com essas pautas de privatização”, disse. 

Privatização da Copel irá atrair investidores

Segundo Milene Dellatore, CEO do Grupo Mide Investimentos e especialista em investimentos, o mercado sempre vê com bons olhos possíveis privatizações. 

“O mercado sempre vai gostar da privatização de empresas, por conta da ineficiência do Estado. Então toda vez que tiver uma privatização, seja da Sabesp, Copel ou qualquer outra empresa, vai ser vista com bons olhos. Os acionistas gostam de saber que a companhia está sendo administrada por um gestor e não por um governo. O investidor vai saber de onde é o gestor, quais são os passos dele e como ele gosta de agir”, afirmou. 

De acordo com Dellatore, uma provável privatização da Copel pode atrair inúmeros investidores, visto que a mudança pode implicar em um maior lucro para a empresa, algo visto como positivo no mercado. 

“O mercado entende e já tem conhecimento da ineficiência do governo de administrar empresas. Com isso, toda possibilidade de privatização causa uma euforia. O mercado já tem precificado ações da Sabesp, Cemig e Copasa. Toda vez que uma empresa é administrada em busca da eficiência e lucros, muitos investidores são atraídos”, disse.

“Caso a Copel seja privatizada, uma mudança muito importante será promovida no quadro societário. O governo do Paraná deixará de ter 70% das ações, passando apenas para 15% dessas ações no capital social e 10% só no poder de voto. Logo, os acionistas terão um poder de voto muito maior, no qual irão visar o lucro e a eficiência da empresa, atraindo muitos investidores”, completou Dellatore.

Alves compartilha da mesma visão de Dellatore, afirmando que o modelo de privatização da Copel é semelhante ao da Eletrobras (ELET3;ELET6) – algo bem visto entre os investidores. 

“Com certeza a privatização vai atrair bastante investidores , o modelo de privatização semelhante ao da Eletrobras é bem visto pelo mercado. A Copel, ainda por cima, possui ativos de qualidade e está em uma das regiões de maior crescimento e renda per capita do País. Caso consiga entregar o nível de eficiência das empresas privadas, as ações da Copel tendem a se valorizar”, relatou. 

Funcionamento da Copel não deve ser alterado

Buratini acredita que, mesmo com a privatização da Copel, a empresa não deve se comportar de uma maneira diferente de como se comporta hoje em dia, visto que ela já segue a lógica do mercado acionário e age como uma empresa privada. 

“Eu acredito que a Copel não deve se comportar de uma forma muito diferente do que ela já se comporta hoje. Apesar do sócio majoritário da Copel ser o governo do estado do Paraná, a companhia já atua na verdade como uma empresa de capital aberto, que não segue a orientação do seu majoritário, mas sim a lógica de funcionamento do próprio mercado de capitais”, explicou.  

“Então a empresa é administrada de uma forma como se fosse uma empresa privada voltada para geração de lucro e para uma boa distribuição de dividendos. Só pra dar um exemplo, no ano de 2021, a Copel teve um lucro líquido de cinco bilhões de reais e distribuiu quase três bilhões em dividendos. É, de fato, uma empresa conhecida no setor elétrico como uma empresa eficiente, que tem uma boa gestão, diversificada e que atua na área de geração de transmissão e distribuição”, completou.