Economia

Orçamento 2024: ‘bom pra quem?’; veja análise da LOA deste ano

O documento traz uma estimativa de R$ 5,5 trilhões em despesas do poder público federal

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou na última segunda-feira (22) a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024, que estabelece um direcionamento para os gastos do cofre público ao longo do ano. O documento traz uma estimativa de R$ 5,5 trilhões em despesas do poder público federal. Para avaliar as sanções e vetos, o BP Money reuniu análises de especialistas sobre o planejamento econômico do País.

A priori, o sócio e CEO da Fiscorrect, Aurélio Manfrinato, indaga que para compreender a distribuição dos recursos federais, faz-se necessário o questionamento: “bom para quem?”.  Isso porque quando se tem o aumento dos gastos governamentais, deve constar no Orçamento de onde virá tal recurso. Manfrinato destaca que os empreendedores serão uns dos principais impactados com o aumento dos tributos federais.

“Sob o ponto de vista de quem vai pagar essa conta – quem empreende e gera riqueza no país – a LOA de 2024 transmite um claro recado: essas pessoas pagarão muito mais do que já pagaram em toda história da república brasileira”, disse.

Ele explica que, considerando-se que o tamanho do estado é inversamente proporcional à riqueza e prosperidade dos seus cidadãos, o que pode ser um bom planejamento para o governo, pode não ser um bom planejamento para quem empreende e gera riquezas.

Por outro lado, em sua análise, do ponto de vista do governo, o CEO afirma que o Orçamento de 2024 é um bom plano, “visto que tem como objetivo gerar base legal para honrar compromissos e dívidas políticas”.

“Na prática, o que o governo pretende fazer em 2024 é a continuidade da política de 2023, que tem como bases uma expansão monetária completamente desproporcional ao crescimento econômico real, impondo um aumento explosivo de impostos e mudanças na legislação tributária, contrariando as próprias normativas da receita federal em uma tentativa que já se provou falha de equilíbrio fiscal”, completa

Orçamento 2024: meta ‘déficit zero’ é exequível? 

A LOA inclui a meta de “déficit zero” estabelecida pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento. Isso significa que o governo só pode gastar o que arrecadar, sem aumentar a dívida pública.

Para Manfrinato, o déficit zero só deve ser alcançado caso as projeções de arrecadação atinjam os valores esperados, uma vez que, “da parte do governo, provavelmente não veremos qualquer empenho em reduzir seus gastos”.

O economista Willian Maachar explica, em resposta ao BP Money, que para que esta meta seja alcançada, cortes no orçamento deverão ser realizados, mais um desafio para a gestão orçamentária.

“Para alcance desta meta, cortes no orçamento deverão ser realizados, o que deverá ser muito bem planejado para ser exequível, visto que cortes no orçamento poderá inviabilizar novas formas de investimento, deixando o país em condições deficitárias, ou seja “menos dinheiro no bolso do povo”, avalia.

Manfrinato, por sua vez, também avalia o cenário como desafiador e adiciona uma perspectiva mais pessimista, levando em consideração os alcances do ano passado. Ele classifica como “receita de fracasso”, defendendo que há a necessidade da adoção de uma nova estratégia, por parte do Governo, para que tal intenção seja possibilitada.

“O que vimos em 2023, apesar do empenho do governo em aumentar a arrecadação – seja por meio de aumento de alíquotas, o retorno de impostos a muitos produtos e a inclusão de novos tributos – foi a redução da arrecadação. Aparentemente, em 2024, o Governo tenta a mesma receita de fracasso com ainda mais força do que em 2023”, analisa.

Orçamento de 2024 tem veto de R$ 5,6 bi em emendas de comissão

A LOA, publicada no Diário Oficial da União da última terça-feira (23), implica na retirada de R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão. Desta forma, o montante de R$ 11 bilhões foi estabelecido no Orçamento de 2024.

O veto foi explicado pela diminuição nos gastos originalmente planejados pelo governo, que foram desviados para emendas de comissões parlamentares durante a tramitação do Orçamento no Congresso.

“Vale ressaltar que estas emendas não são impositivas, ou que em sua totalidade, não existe reserva obrigatória de recursos para o pagamento destas emendas. E, muitas vezes, as ações não são implantadas em sua integralidade”, disse o economista. 

Maachar completa afirmando que o veto, a ser discutido posteriormente, torna-se positivo para um melhor planejamento de investimento e adequação da utilização, uma vez que a partir do momento que estas verbas são autorizadas, a execução deverá ser concreta.

O profissional da economia contrapõe: “Um ponto positivo do veto inicial para as emendas de comissão, seria um melhor período de tempo para planejamento e garantir a aplicabilidade em áreas e situações sensíveis do país, visto que a maioria são utilizadas em período eleitoral. Enquanto o lado negativo é a geração de conflitos entre os parlamentares, que pode gerar atraso no cumprimento destas ações”.

Despesas previstas

Ainda de acordo com a LOA, dentro do montante global estimado para as despesas em 2024 , de R$ 5,4 trilhões, aproximadamente R$ 2 trilhões serão alocados no Orçamento Fiscal, excluindo a parcela destinada ao refinanciamento da Dívida Pública Federal. Além disso, cerca de R$ 1,6 trilhão será destinado ao Orçamento da Seguridade Social, enquanto aproximadamente R$ 1,7 trilhão será reservado para o Refinanciamento da Dívida Pública Federal.

Abaixo, veja as projeções de gastos por entidade nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social:

ÓrgãoValor
Ministério da Previdência Social R$ 929,7 bilhões
Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à FomeR$ 281,9 bilhões
Ministério da SaúdeR$ 232 bilhões
Ministério da EducaçãoR$ 181 bilhões
Ministério da DefesaR$ 126,4 bilhões
Ministério do Trabalho e EmpregoR$ 110,4 bilhões
Ministério dos TransportesR$ 56,3 bilhões
Ministério da FazendaR$ 33 bilhões
Justiça do TrabalhoR$ 26,9 bilhões
Ministério das CidadesR$ 22,3 bilhões
Ministério da Justiça e Segurança PúblicaR$ 21,9 bilhões
Justiça FederalR$ 16,1 bilhões
Ministério da Ciência, Tecnologia e InovaçãoR$ 12,8 bilhões
Justiça EleitoralR$ 11,9 bilhões
Ministério da Agricultura e PecuáriaR$ 11,3 bilhões
Ministério da Integração e do Desenvolvimento RegionalR$ 9,8 bilhões
Ministério Público da UniãoR$ 9,3 bilhões
Ministério de Minas e EnergiaR$ 9,0 bilhões
Câmara dos DeputadosR$ 8 bilhões
Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços PúblicosR$ 6,5 bilhões
Senado FederalR$ 5,9 bilhões
Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura FamiliarR$ 5,8 bilhões
Ministério de Portos e Aeroportos R$ 5,4 bilhões
Ministério das Relações ExterioresR$ 4,5 bilhões
Advocacia-Geral da UniãoR$ 4,4 bilhões
Banco Central do BrasilR$ 4,1 bilhões
Justiça do Distrito Federal e dos TerritóriosR$ 3,8 bilhões
Ministério do Meio Ambiente e Mudança do ClimaR$ 3,6 bilhões
Ministério da CulturaR$ 3,5 bilhões
Ministério do Planejamento e Orçamento R$ 3,3 bilhões
Presidência da RepúblicaR$ 3,2 bilhões
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e ServiçosR$ 2,9 bilhões
Tribunal de Contas da UniãoR$ 2,8 bilhões
Ministério do EsporteR$ 2,5 bilhões
Ministério do Turismo R$ 2,2 bilhões
Superior Tribunal de JustiçaR$ 2,1 bilhões
Ministério das ComunicaçõesR$ 2,0 bilhões
Controladoria-Geral da UniãoR$ 1,3 bilhão
Supremo Tribunal FederalR$ 897 milhões
Ministério dos Povos IndígenasR$ 849 milhões
Defensoria Pública da União R$ 761 milhões
Justiça Militar da UniãoR$ 758 milhões
Ministério dos Direitos Humanos e da CidadaniaR$ 502 milhões
Ministério das MulheresR$ 480 milhões
Ministério da Pesca e AquiculturaR$ 356 milhões
Conselho Nacional de JustiçaR$ 297 milhões
Ministério da Igualdade RacialR$ 180 milhões
Conselho Nacional do Ministério PúblicoR$ 115 milhões
Gabinete da Vice-Presidência da RepúblicaR$ 15 milhões
Fonte: Diário Oficiall da União (DOU)