Fraude bancária de 11 anos: bilionária é condenada à morte no Vietnã

O Vietnã testemunhou um dos julgamentos mais impactantes de sua história, à medida que uma das maiores fraudes bancárias globais foi levada ao tribunal na cidade de Ho Chi Minh, em que a bilionária Truong My Lan foi condenada à morte. 

A empreiteira, de 67 anos, recebeu sua sentencia na última quinta-feira (11), por desviar fundos do Saigon Commercial Bank (SCB) ao longo de 11 anos. 

Com o veredicto, a bilionária compôs a curta lista de mulheres no Vietnã que enfrentam tal consequência por crimes financeiros.

“Acho que nunca houve um julgamento midiático como este na era comunista […] Certamente, não houve nada com esta dimensão”, diz David Brown, oficial aposentado do Departamento de Estado dos EUA com longa experiência em Vietnã.

Truong My Lan foi considerada culpada por contrair empréstimos no valor de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 222 bilhões, levando em consideração a cotação do último fechamento, sexta-feira, 12) e foi ordenada a reembolsar US$ 27 bilhões (o equivalente a R$ 137 bilhões), embora a recuperação total desses fundos pareça improvável.

A pena de morte, neste caso, é vista como um esforço do tribunal para incentivar a devolução de parte dos bilhões desviados.

As autoridades comunistas, geralmente reservadas, têm fornecido detalhes minuciosos sobre o caso, comunicando-se abertamente com a imprensa.

O processo de sentencia foi significativo, com 2,7 mil testemunhas intimadas, dez promotores estaduais e cerca de 200 advogados participando do processo. As evidências físicas incluem 104 caixas totalizando seis toneladas. Além disso, outras 85 pessoas foram julgadas junto com Truong My Lan, enquanto ela e mais 13 indivíduos enfrentam a possibilidade da pena de morte.

 Passado da bilionária 

Após a intensa campanha que resultou na renúncia de dois presidentes e dois vice-primeiros-ministros, assim como na punição e prisão de centenas de autoridades, a atenção agora se volta para uma das mulheres mais ricas do país, Truong My Lan.

Originária de uma família sino-vietnamita em Ho Chi Minh, antiga Saigon, uma cidade historicamente central na economia vietnamita, ela iniciou sua trajetória trabalhando nos mercados locais ao lado da mãe, vendendo cosméticos.

Com o início do período de reforma econômica conhecido como Doi Moi em 1986, promovido pelo Partido Comunista, Lan passou a investir em terrenos e propriedades, expandindo seu patrimônio.

Durante a década de 1990, ela já possuía um extenso portfólio composto por hotéis e restaurantes. Apesar do destaque internacional do Vietnã estar associado ao seu setor industrial em rápido crescimento, principalmente como alternativa à cadeia de abastecimento chinesa, a maioria dos vietnamitas ricos construiu suas fortunas por meio do desenvolvimento e especulação imobiliária.