Empiricus: casa de análise foi parcial ao shortear TC?

Segundo a empresa, o valor de mercado do TC encontra-se em um patamar bem acima do que indicam suas projeções

A casa de análises Empiricus divulgou na manhã desta terça-feira (26) um relatório recomendando que seus assinantes formem uma posição apostando na queda das ações da plataforma TC (antigo Tradersclub), negociadas sob o código TRAD3.

Para Felipe Miranda, analista e fundador da Empiricus, o valor de mercado do TC encontra-se em um patamar bem acima do que indicam suas projeções. Ele destaca no documento que para o valor atual da empresa (R$ 1,68 bilhão ontem) ser considerado justo, a mesma precisaria atingir uma receita de R$ 950 milhões em 2025, ante os R$ 40 milhões de 2020.

No que chamou de um cenário mais “realista” de projeção, a Empiricus analisou que o avanço levaria o TC a uma receita de R$ 600 milhões em 2025, reduzindo assim seu valor justo para cerca de R$ 713 milhões, o que está 56% abaixo do número de ontem.

Como esperado, os dados não foram bem recepcionados pelo mercado. Os papéis do TC encerraram com queda de 10,17%, a R$ 5,39, com volume financeiro de R$ 48 milhões.

Em meio a isso, uma grande questão ficou implícita  para muitos investidores: a Empiricus foi parcial ao recomendar shortear o TC, já que tratam-se de duas casas de análises?

Para responder essa pergunta, é preciso entender o contexto. O analista da BP Money, Nathan Meirelles, entende que, no panorama geral, o relatório divulgado hoje faz sentido, visto que o TC de fato é uma empresa que tomou notoriedade num momento extremamente oportuno para ativos de risco e bolsa de valores, que foram os anos de 2019-2020.

Ele salienta dois fatores corroborativos:
1. Juros em recorde de baixa, favorecendo a tomada por risco;
2. Pessoas mais ociosas, buscando maneiras alternativas de ganhar dinheiro e se ocupar.

Além disso, Meirelles afirma que o relatório levanta um ponto importante. 

“O cenário atual é sem dúvidas mais desafiador para os investidores pessoa física aplicarem em bolsa, seja por conta da aversão a risco, falta de conhecimento, ou principalmente porque agora o investimento em bolsa volta a concorrer com investimentos de Renda Fixa, devido aos juros mais altos”, comenta.

Portanto, o analista diz concordar com a parte do documento que frisa a dificuldade de monetizar infoprodutos para uma população com pouca vontade de adquirir conhecimento, sobretudo a respeito do mercado financeiro. 

Aliado a isso, a retomada de grandes empresas – como a XP Inc. – em investimentos em informação e na venda de infoprodutos torna a tarefa do TC ainda mais complicada.

Em relação aos números da empresa e múltiplos, Meirelles pontua que é primeiro necessário entender como são feitos os IPOs no Brasil.

Diferentemente dos Estados Unidos, onde são as empresas que buscam o banqueiro para ampliar seu acesso ao mercado de capitais e usar o dinheiro do IPO para expansão, no Brasil é o banqueiro que procura a empresa. 

Quem olha de fora pode achar que essa troca não causa impactos, mas o analista afirma que faz diferença sim. 

“Como é o banco que vai atrás da companhia, existe um incentivo para que os IPOs sejam precificados lá em cima, com 90% deles trazendo valores de negociação irreais para as empresas. Assim, já era esperado que o preço do TC não condissesse com a realidade.”

Em mais um ponto do documento, são citados os prejuízos deste último trimestre como motivo para shortear.

Na visão de Meirelles, isso é “completamente normal”. 

“O TC é uma empresa em estágio embrionário e por via de regra todas as companhias em tais níveis são extremamente arriscadas, justamente por residirem nesta fase inicial de ‘make it or break it'”, disse.

Por fim, depois de perceber que todo racional é bem feito e fundamentado, o que precisamos questionar é só o timing de tal publicação.

Recentemente o TC “surrupiou” um dos melhores analistas da Casa, o Max Bohm, e gera a dúvida: o timing tem algo a ver com algum interesse ou rixa entre as casas?

A Empiricus não atendeu ligações para comentar sobre o assunto, mas as discussões na internet continuam repercutindo entre os usuários de ambas.