Barsi negociou quantidades atípicas de ações da Unipar, diz CVM

Para obter essa média e comparar, a CVM levantou todas as negociações de Barsi com papéis da Unipar

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) destacou que Luiz Barsi, maior investidor pessoa física da B3, usou informações privilegiadas para comprar ações da Unipar (UNIP6). Segundo o órgão, na ocasião foi adquirida uma quantidade “bem superior” à média negociada pelo acusado. Foi a 11ª maior compra diária já realizada por ele. 

Para obter essa média e comparar, a CVM levantou todas as negociações de Barsi com papéis da Unipar de janeiro de 2015 a meados de 2021, segundo informações do “Estadão/Broadcast”. 

Após a abertura do PAS (processo administrativo sancionador), revelada pela imprensa há cerca de dez dias, o bilionário afirmou, em nota, que a investigação ainda é um “procedimento de apuração” e ressaltou que tem “plena convicção que nada de errado foi praticado”.

“Estou e sempre estive à disposição das autoridades, cujo procedimento corre na esfera administrativa e ainda está em fase inicial”, diz a nota, publicada nas redes sociais da filha, Louise Barsi.

Investigação a Barsi começa após compra da Compass Minerals

A investigação se debruça sobre operações feitas antes da divulgação de um fato relevante pela companhia em 2 de junho de 2021. No documento, a Unipar informou ter celebrado com a Compass Minerals um acordo de confidencialidade para “analisar informações para uma possível operação” entre as duas empresas.

O fato relevante foi divulgado à noite, após o jornal “Valor Econômico” ter informado, naquele dia, que a Unipar estaria perto de fechar com a Compass Minerals a compra de uma fábrica de cloro-soda, por R$ 300 milhões.

Na época, após a notícia, a ação ON (ordinária, com direito a voto) subiu 12,73% naquele pregão, para R$ 73,14. O papel preferencial (PN, sem direito a voto) subiu 11,76%, para R$ 78,12.

Ao analisar a evolução das cotações em torno da data da revelação da possível aquisição da fábrica, a CVM avalia que “o mercado reagiu positivamente à informação” e ressalta que, apesar disso, “as oscilações atípicas de preços e quantidades negociadas” em ações da Unipar começaram alguns dias antes, a partir de 27 de maio, conforme parecer técnico anexado ao processo sancionador.

Com isso, surgiu a suspeita de que a negociação para comprar a fábrica tenha sido utilizada como informação privilegiada, o que justificou a continuidade das investigações.

A B3 já havia identificado as oscilações atípicas antes mesmo da divulgação do fato relevante sobre as negociações e, por isso, chegou a pedir explicações a Unipar. 

Em 1º de junho de 2021, a empresa divulgou comunicado ao mercado para responder à B3, informando que “após inquirir os seus administradores e acionistas controladores, com o objetivo de averiguar se estes têm conhecimento de informações que deveriam ser divulgadas ao mercado, informa que não tem conhecimento de nenhum fato ou ato relevante que possa ter justificado a oscilação de referidas ações nos pregões acima mencionados”.

O termo de acusação aponta que, durantes as investigações, foram identificadas grandes operações de compra por parte de Barsi, em 28 de maio de 2021. Para sustentar a atipicidade das operações, a CVM diz que as compras daquele dia foram as primeiras feitas pelo investidor em quase um ano.

De acordo com à publicação, “o volume negociado de posse de informação privilegiada foi bem superior a sua média histórica desde 2015”. Entre 1º de janeiro de 2015 e 28 de maio de 2021, as compras da última data representam “o 11º maior volume diário negociado até então pelo administrador”, diz o termo de acusação.

Buscando afastar a possibilidade de ter havido qualquer irregularidade nas operações, Barsi reforça sua estratégia de investimentos, renomada no mercado, de manter posições de longo prazo, com foco no recebimento de dividendos.

“Sou acionista cativo da companhia há mais de 10 anos, além de atuar como conselheiro de administração. Como todos publicamente sabem, minha carteira é formada por décadas de investimento em bolsa de valores, sempre com um viés de compra para proporcionar uma renda financeira através dos dividendos. Em outras palavras, não tenho ativos de curto prazo, muito menos com o propósito direto de me beneficiar da rápida valoração de qualquer ativo, já que raramente vendo minhas posições”, diz a nota do bilionário. 

Ele destaca ainda que as compras de 28 de maio de 2021 foram feitas em seguida à divulgação, no dia anterior, de aviso aos acionistas da Unipar sobre a distribuição de dividendos. Conforme o aviso, a companhia pagaria R$ 250 milhões referentes à distribuição antecipada de dividendos do exercício de 2021. 

No entanto, a CVM refutou o argumento, segundo o termo de acusação. Para o órgão regulador, é “notório que a distribuição dos dividendos, em regra, não tem o condão de impactar as cotações dos ativos”. Por sua vez, a compra da fábrica revelada pela imprensa e tratada no fato relevante de 2 de junho de 2021 seria “capaz de impactar o fluxo de caixa futuro da companhia e, portanto, a cotação dos papéis de sua emissão e a decisão de negociar esses papéis”.

A Unipar informou que, na qualidade de membro do conselho de administração e acionista, Barsi foi informado das negociações sobre a compra da fábrica em novembro de 2020 – portanto, para a acusação, o investidor detinha a informação privilegiada.

Além de refutar o argumento de que as operações foram apenas de compra, sem venda subsequente e, por isso, não obteve qualquer lucro nas negociações, a CVM aponta que, se Barsi deixasse para comprar as ações no pregão seguinte ao que foi marcado pela revelação da negociação para comprar a fábrica, o valor despendido por ele seria maior, o que “demonstra uma vantagem financeira com o uso indevido de informação privilegiada”.