Tecnologia

Stablecoins são a união entre o universo cripto e a economia tradicional; entenda

Esses ativos têm chamado atenção por serem mais seguros que outras criptomoedas, mas especialistas apontam riscos

As stablecoins estão no olho do furacão desde que a TerraUST, a stablecoin da rede Terra, entrou em colapso no mês passado e atraiu a atenção de investidores e não-investidores do mercado cripto e de reguladores ao redor do mundo. Mas o que, exatamente, são as stablecoins e como elas se relacionam com a economia tradicional?

O nome “stablecoin” é a junção das palavras “stable” (estável, em português) e “coin” (moeda). Em teoria, são criptomoedas estáveis. O que não significa que seu valor é imutável, e sim que ele está atrelado a outros ativos, inclusive do mercado tradicional.

Assim, o caráter estável das stablecoins se dá pela paridade que mantêm com algum outro ativo, como moedas fiduciárias, outras criptomoedas ou commodities. Isso garante que as stablecoins não fiquem à mercê da volatilidade do mercado de criptoativos, como ocorre com as criptomoedas tradicionais. 

Quais são os tipos de stablecoins?

Atualmente, existem quatro tipos principais de stablecoins no mercado: lastreadas em moedas fiduciárias (fiat), lastreadas em commodities, lastreadas em outras criptomoedas já existentes, e as algorítmicas. 

As stablecoins lastreadas em moedas fiduciárias são emitidas na proporção 1 para 1, ou seja, para cada stablecoin gerada, a empresa ou o projeto emissor possui a mesma quantidade em caixa como reserva. A USDT, da rede Tether, é a maior stablecoin no mercado atualmente. Outro exemplo é a USD Coin, ou USDC, uma stablecoin pareada com o dólar dos Estados Unidos e operada pelo Centre, um consórcio criado pelas empresas Circle e Coinbase. 

As stablecoins lastreadas em commodities seguem a mesma lógica, sendo o ouro e outras pedras preciosas os ativos mais comuns nesses casos. Para as stablecoins lastreadas em criptomoedas, a vantagem é que elas existem em um ambiente totalmente descentralizado. 

Hugo Trombini, head de criptoativos da Hurst Capital, cita a DAI como exemplo: para que ela possa ser gerada, é preciso depósito de ETH (Ethereum) em um contrato inteligente. Tanto as stablecoins lastreadas em moedas fiduciárias quanto as lastreadas em commodities e criptomoedas são denominadas colaterizadas.

As stablecoins não-colaterizadas são as algorítmicas, que não possuem lastro em outros ativos. Elas mantêm paridade com o ativo de referência através de algoritmos e contratos inteligentes na blockchain. Para garantir a paridade, o algoritmo pode emitir moedas ou realizar operações de queima, eliminando a necessidade de o emissor possuir uma reserva de valor. O TerraUST é um exemplo de stablecoin algorítmica. 

Quais são as vantagens e os riscos das stablecoins? 

Henrique Teixeira, diretor global de desenvolvimento de negócios do Grupo Ripio, explica que as stablecoins nasceram cerca de cinco anos atrás justamente para endereçar a questão da volatilidade. “Existia um determinado público que gostaria de começar a usar os ativos digitais, mas, por conta da volatilidade, não conseguia aplicar em seus casos de uso”, conta. 

Para Trombini, a questão da simplicidade é um dos principais benefícios das stablecoins. No Brasil, é possível comprar stablecoins diretamente nas exchanges a partir da criação de uma conta, geralmente gratuita. “Ao invés de comprar uma moeda fiat como o dólar ou o ouro, pode-se comprar um ativo equiparado a fiat ou metais preciosos”, disse. 

No entanto, apesar de serem mais seguras que outros ativos digitais, também há riscos ao investir em stablecoins. “Essa classe de ativos merece atenção especial em termos de seriedade de projetos e confiabilidade de algoritmos”, afirmou Trombini. Para evitar cair em “armadilhas”, o investidor deve prestar atenção aos sinais de que o projeto da stablecoin é legítimo e confiável. 

Teixeira alerta os investidores a verificar o tamanho do projeto e do lastro e prestar atenção a eventuais ganhos no curto prazo muito acima das taxas praticadas no mercado tradicional. Ele ressalta a importância de se informar sobre os diferentes tipos de stablecoins, de lastro e de projetos existentes no mercado. “Na hora que o investidor for aportar os seus recursos, é importante ele entender os diferentes riscos e as oportunidades”, disse. 

Leia também: No Grupo Ripio, criptoativos merecem até um produto premium no Brasil

Recentemente, uma questão envolvendo as reservas do USDT (Tether USD) levantou outra questão no tocante às stablecoins. Isso porque o Tether detém cerca de US$ 73 bilhões em reservas para a emissão das stablecoins, mas ninguém sabe exatamente onde esses ativos estão guardados. Devido à falta de regras específicas adereçando os ativos digitais, há emissores que faltam em relação à transparência de suas reservas de ativos.

Regulações em pauta e os CBDCs

O colapso da rede Terra no início de maio e a falta de transparência de alguns emissores acendeu o alarme para muitos países, que começaram a implementar regulamentações para as stablecoins, de forma a proteger o investidor de possíveis colapsos. 

Apenas na primeira semana de junho, as autoridades japonesas e o Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (NYDFS) aprovaram medidas para regular os criptoativos. Outras autoridades norte-americanas e europeias também têm demonstrado preocupação no tocante às stablecoins. 

No Japão, a nova lei, que entrará em vigor em 2023, exige que as stablecoins sejam ligadas ao iene ou à outra moeda fiduciária. Além disso, esses ativos só podem ser emitidos por bancos licenciados, agentes de transferência monetária registrados e empresas fiduciárias. Em Nova York, os ativos devem ficar segregados dos fundos operacionais dos emissores e devem ser atestados por um auditor regularmente.

Ambos os especialistas acreditam que as regulações são essenciais para o mercado. “As regulações são importantes para proteger o investidor contra golpes, lavagem de dinheiro, riscos sistêmicos, contaminação, confiabilidade nos provedores de serviço e de algoritmos”, afirmou Trombini. 

Neste sentido, Teixeira ressalta que CBDCs (Central Bank Digital Currency, criptomoedas emitidas por bancos centrais) ajudam a dar confiança ao investidor. CBDCs estão sendo discutidas e estudadas por governos de todo o mundo para se somar à categoria das stablecoins. 

No Brasil, o governo está desenvolvendo o Real Digital, uma CBDC que funcionará como uma extensão digital do real. Ou seja, estará atrelado ao real, mas existindo apenas virtualmente em uma rede blockchain, o que reduz os custos administrativos de se manter o atual sistema de pagamentos e garante mais agilidade e facilidade em transações financeiras. 

“Isso vai ajudar a expandir os casos de uso e viabilização das stablecoins pois dará confiança às pessoas que preferem investir em um projeto que tem o governo como emissor”, diz Teixeira. Trombini conclui afirmando que “estamos num momento emergente de novas tecnologias, e é fundamental, ao investidor, a certeza de estar investindo em projetos sérios”.