Tensão Rússia e Ucrânia: entenda guerra não declarada

As tensões políticas têm causado uma volatilidade nos preços de commodities.

A secretária de imprensa da Casa Branca dos Estados Unidos, Jennifer Rene, declarou, na última terça-feira (18), que a diplomacia norte-americana espera um ataque da Rússia a Ucrânia “a qualquer momento”, mas não é de hoje que essa tensão vem ocorrendo entre os países.

Apesar de Rússia e Ucrânia terem raízes, culturas e povos em comum, o conflito que vem acontecendo possui um histórico datado desde a antiga União Soviética, que voltou a ser destaque tendo o seu ponto mais alto nos últimos anos com a tropa da Rússia em posição nas fronteiras entre as nações, aumentando o temor de que uma invasão possa acontecer a qualquer momento.

“O que está acontecendo é mais uma fase de uma guerra que já ocorre desde 2014, quando houve a chamada Revolução da Dignidade na Ucrânia e o governo ucraniano saiu da esfera de influência da Rússia — particularmente do grupo de Putin — e ficou mais neutra, de certa forma, pró-ocidente, pró-Otan”, explica Paulo Vicente, professor de estratégia da Fundação Dom Cabral (FDC), ao BP Money.

História do conflito
As tensões entre os países voltaram à tona no ano de 2013, depois de um acordo político e comercial com a União Europeia. Após o colapso da União Soviética, a Rússia e a Ucrânia se tornaram países independentes. No entanto, alguns ucranianos, principalmente do Leste, não aceitaram muito bem, pois se identificavam mais com a Rússia. Essa dualidade acabou tendo um papel importante para a crise atual.

Independente, a Ucrânia formou aliança militar com a Rússia e com outros países membros das comunidades dos estados e, ao mesmo tempo, firmou uma parceria com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em 1994. Em 2013, o então presidente Viktor Yanukovych, pró-Rússia, suspendeu os diálogos de associação entre Ucrânia e União Europeia, para estreitar laços com os russos, mas o resultado não foi bom. O país foi tomado por uma onda de protestos que ficou conhecida como Euromaidan.

No ano seguinte, a Rússia invadiu e anexou a Crimeia, uma península localizada na costa do norte do mar Negro, ao sul da região ucraniana e com forte lealdade russa. Pouco tempo depois, separatistas pró-Rússia tomaram conta das áreas industriais do leste ucraniano, regiões de Donetsk e Luhansk, que declararam sua independência de Kiev, capital da Ucrânia.

Porém, o governo da Ucrânia contra-atacou, gerando uma guerra civil entre ucranianos e a força separatistas pró-Rússia, levando à morte de milhares de pessoas. Na tentativa de interromper o conflito, em 2015, foi assinado o tratado de paz de Minsk, com intermédio da França e Alemanha, mas a tensão está longe de acabar.

Por que o temor de uma nova invasão agora?
De um lado, o governo da Ucrânia acusa a Rússia de enviar “reforços” para o fronte em áreas controladas por rebeldes e de aumentar os militares na Crimeia. Além de insistir que Moscou não pode impedir a capital ucraniana de se aproximar da Otan.

Do lado oposto, a Rússia nega que planeja uma invasão e alega que tem o direito de mover tropas no próprio território.

Durante uma reunião com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em dezembro de 2021, o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin, ainda acusou a Ucrânia de provocação.

Para o professor Paulo, “o cenário mais provável é que eles continuem pressionando sem invasão, fazendo ataques cibernéticos, incursões por drone, mas sem uma guerra propriamente dita, para tentar desestabilizar a Ucrânia. A estratégia dos russos hoje deriva da estratégia soviética do passado, que é de tentar desestabilizar os países para eles não conseguirem avançar”.

Ainda de acordo com Vicente, a possibilidade de uma invasão não pode ser excluída, mas se ocorrer será com uma pequena excursão.

Otan
Recentemente, Putin pediu que a Otan reduzisse sua presença nos países do Leste Europeu, no entanto, em entrevista a repórteres, o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, declarou que caso haja um ataque à Ucrânia, a Otan vai expandir ainda mais na região.

Ainda sobre a invasão, à CNN, Stoltenberg disse que a Rússia pagará caro se optar por invadir um parceiro da Otan.

“Temos uma ampla gama de opções: sanções econômicas, sanções financeiras, restrições políticas”, afirmou.

Energia
Além do medo da invasão e de uma nova guerra, a Ucrânia enxerga o gasoduto Nord Stream 2, que visa duplicar o envio direto de gás da Rússia para a Alemanha, como uma ameaça à segurança nacional.

Sobre o temor, Vicente destacou a dependência que a Europa tem do gás e petróleo russo. “Uma das formas que Putin tem de pressionar a Europa é ameaçar cortar a energia e a região ficar sem gás e sem petróleo, impossibilitando até que as casas sejam aquecidas durante o inverno”.

Contudo, os Estados Unidos já iniciaram movimentos para amenizar os impactos caso isso ocorra. “O americano sabe disso e já começou a trazer algumas fontes de gás extra para a Europa”.

Essa dependência é um dos motivos para que a Europa dê ênfase a uma mudança para a energia renovável. Entretanto, vale destacar que a relação entre a Rússia e a Europa é de codependência e, por esse motivo, de acordo com o docente Paulo, uma guerra seria pouco provável enquanto ela ainda existir.
 
*Até o momento do fechamento da matéria não houve invasão russa.