Terceirização e trocas na Petrobras (PETR4) visam reeleição de Bolsonaro, dizem especialistas

Em entrevista ao BP Money, analistas políticos explicaram que preços dos combustíveis podem ocasionar “tarifaço”

Há poucos meses das eleições presidenciais no Brasil, as investidas do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra a Petrobras (PETR4) – como as constantes trocas na presidência da estatal e a “terceirização” da culpa da alta dos preços dos combustíveis – estão sendo consideradas como parte de sua estratégia de reeleição, de acordo com o sugerido por analistas ouvidos pelo BP Money.

Em meio à alta excessiva dos preços dos combustíveis nos últimos meses, o plano de Bolsonaro tem sido direcionado principalmente para os valores praticados pela Petrobras em relação ao produto.

De acordo com Sidney Lima, analista de investimentos da Top Gain, a estratégia adotada pelo presidente visa impactar a população brasileira, visto que a pauta dos combustíveis é um prato cheio para tornar uma mudança perceptiva no governo.

“No contexto geral do Brasil, algumas atitudes governamentais, como controle inflacionário, por exemplo, são muito mais difíceis de serem percebidas. Entretanto, quando se trata do valor dos combustíveis, algo muito mais palpável para os brasileiros, a vitrine torna-se muito maior e a compreensão aumenta. É nesse sentido que Bolsonaro tem focado na Petrobras, para que a mudança do valor nas bombas leve uma impressão imediata aos brasileiros”, explicou Lima.

É certo que a problemática começa principalmente na paridade internacional, visto que a principal petroleira do Brasil segue a proporção praticada nos mercados mundiais, que estão sofrendo com a alta inflacionária e disparada dos papéis de petróleo.

Entretanto, a narrativa usada por Bolsonaro faz uso da culpabilização da companhia, a fim de transferir a responsabilidade pelos aumentos exacerbados no Brasil.

Nesse sentido, Ricardo Balistiero, doutor em economia e Coordenador do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), explica que, apesar da intenção populista, as pressões acerca do valor dos combustíveis podem ocasionar um colapso futuro.

“Quando há um grande aumento para repor os prejuízos devido ao preço de algum produto que ficou congelado durante um determinado período, as chances de termos o famoso ‘tarifaço’ aumenta muito. Vale lembrar que a Petrobras importa derivados do petróleo, cujo preço continuará subindo. Logo, no final das contas, vamos pagar a conta do tarifaço e do custo da importação”, afirmou Balistiero.
 

Evidenciar tentativas de mudança nos cenários dos combustíveis é “coringa” para Bolsonaro

Apesar do risco fiscal na criação de subsídios como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) e a PEC dos Benefícios, a análise superficial dos eleitores pode ser um fator que impulsione Bolsonaro nas pesquisas e nos votos válidos.

Isso pois, segundo Lima, o perigo do tarifaço passa a ser a última preocupação de uma parte dos brasileiros, ao passo de que a diminuição – ou pelo menos, sua tentativa – dos preços dos combustíveis no País ficam muito mais visíveis aos olhos do consumidor, o que poderia resultar em pontos positivos para o atual presidente.

“O nível de consciência básica sobre economia no Brasil é um fator que faz com que muitas pessoas não entendam que, futuramente, essa conta voltará para nossos bolsos. A estratégia de Bolsonaro é conseguir uma percepção positiva do eleitor aprendeu, culturalmente, a ser estimulado por auxílios, bolsas e vouchers”, completou o analista.

Na mesma direção, Bolsonaro aprovou, em 7 de julho, um decreto que obriga os postos distribuidores de combustíveis a exibirem os valores praticados antes e depois da confirmação da lei que limitou o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o produto.

De acordo com o texto publicado no DOU (Diário Oficial da União) ambos os preços dos combustíveis deverão ser expostos “de forma correta, clara, precisa, ostensiva e legível”.
 

Contradições acerca da Petrobras e seus preços também podem acabar com chances de atual presidente

Ainda que as iniciativas de Bolsonaro possam ser atraentes para uma parcela da população, elas também podem ser o que diminuirão as chances do candidato do PL de vencer a disputa presidencial.

A narrativa de preços dos combustíveis, além de ser o principal amuleto do atual presidente no momento, também é um dos pilares para as críticas de seus concorrentes, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato Ciro Gomes (PDT).

É claro que, o contexto econômico mundial já está sendo usado para explicar os vários lados da gestão de Bolsonaro sobre os desdobramentos dos preços praticados pela Petrobras. É o que explica Rogério Araújo, líder educacional da corretora de investimentos Vítreo.

“O cenário dos combustíveis é muito influenciável. Ao mesmo tempo que vemos diversas altas, também enfrentamos a política de paridade de preços, acompanhando a variação do preço internacional do petróleo, e a alta nas commodities por causa da guerra na Ucrânia”, disse Araújo.

Contudo, para Sydney Lima, a leitura mais usada pela oposição na guerra de narrativas será baseada na omissão do governo federal, visto que, segundo ele, as duras críticas e pedidos de privatização feitos por Bolsonaro estão na contramão do fato de a companhia ser regulada e responsabilidade do próprio governo.

“Além dos problemas ocasionados durante e após a pandemia da Covid-19, toda essa novela na Petrobras também cairá no colo de Bolsonaro. Certamente a oposição enfatizará que ‘o mesmo presidente que sempre defendeu a privatização da Petrobras passou meses culpabilizando os vários chefes da estatal’, o que pode indicar uma contradição de Bolsonaro”, elucidou Lima.

Logo, alegar que Bolsonaro trocou constantemente os presidentes da Petrobras para criar uma “cortina de fumaça” é um dos principais fatores que pode diminuir as – já remotas, ainda que existentes – chances de reeleição do atual presidente.