Investir para ganhar cada vez mais dividendos? Analistas comentam estratégia

Com Luiz Barsi cada vez mais popular, estratégias focadas no ganho de dividendos têm ganhado espaço nas redes sociais

Estratégias focadas em dividendos têm ganhado cada vez mais popularidade no mercado financeiro. Fortemente defendidas pelo maior investidor brasileiro, Luiz Barsi, muitos brasileiros estão se entusiasmando pelas ações de empresas que pagam remunerações gordas para seus acionistas, como Banco do Brasil (BBAS3) e Taesa (TAE11). 

Luiz Barsi é um bilionário brasileiro, conhecido por sua vida humilde e por ser o maior acionista da bolsa brasileira. Nos últimos meses, ele tem sido assunto recorrente na mídia, seja pelas declarações polêmicas, como quando afirmou que a Magazine Luiza (MGLU3) iria falir, seja por suas estratégias de investimentos, focadas em dividendos. Recentemente, Barsi afirmou receber mais de um milhão de reais por dia em dividendos. 

Com o sucesso de Barsi, começaram a surgir diversas páginas, dos mais variados investidores, que disseminam o método de Barsi, colecionando milhares de seguidores.

Em meio a um contexto de popularização de métodos monetários focados em dividendos, o BP Money entrevistou analistas para investigar se investir apenas nessas estratégias é vantajoso.

Vale investir apenas em ações que deem bons dividendos? Para analistas, depende do perfil e da idade 

Segundo Guilherme Tiglia, sócio e analista da Nord Research, a estratégia depende muito do objetivo e momento de vida de cada investidor, além do perfil.

“Se tiver um perfil mais conservador, ter uma alocação maior em ações de empresas que paguem bons dividendos pode fazer mais sentido. Agora, uma pessoa com um perfil mais arrojado pode ter uma carteira mais voltada para ações de crescimento do que dividendos”, relatou. 

Seguindo o mesmo pensamento de Tiglia, Guilherme Gentile, head de análise da dividendos.me, acredita que o investimento focado no ganho de dividendos vale mais a pena se o indivíduo for mais velho. 

“Se o investidor está mais próximo da aposentadoria, vale mais a pena investir em empresas de dividendos que vão gerar uma renda passiva para ele e ao mesmo tempo tem um risco menor, porém para um investidor iniciante, talvez seja mais interessante diversificar em empresas de maior crescimento”, explicou. 

De acordo com Sidnei Lima, analista do Top Gain, reitera que esse tipo de estratégia pode ser vantajosa, porém o investidor não pode se abalar com as oscilações dos papéis. 

“Desde que o foco dele seja realmente a recorrência de recebimentos das distribuições e não a valorização dos papéis, a estratégia focada em dividendos pode funcionar”, disse.

Analistas apontam que a diversificação dos investimentos é essencial

Dentre aqueles investidores que focam no ganho de dividendos, é extremamente comum ver em suas carteiras de investimentos uma grande concentração de capital em poucos papéis e quase nenhum investimento em outros tipos de investimento, como renda fixa. 

Além de comum, é lógico: quanto mais ações você tem de uma determinada empresa, maior será a remuneração. Assim, tal composição reflete a cultura brasileira de diversificar pouco seu portfólio de investimentos. 

De acordo com pesquisa encomendada pelo C6 Bank ao Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), a maioria dos investidores brasileiros não diversifica os seus investimentos pessoais. A pesquisa foi feita com 2 mil pessoas, das classes A, B e C, entre os dias 17 e 23 de fevereiro deste ano.

O estudo apontou que 28% dos investidores disseram colocar todo o capital disponível em um único tipo de produto, outros 30%, apesar de não aplicarem todo o montante disponível, ainda concentram a maior parte do dinheiro em uma única aplicação.

Do total de entrevistados, apenas 28% disseram investir na Bolsa de Valores. Entre esses, 46% possui ações de menos de cinco empresas na carteira, enquanto 26% afirmam ter papéis de seis a 10 companhias. Somente 13% detém ações de mais de 10 empresas. 

“Acho ruim investir para “um lado só”, eu gosto de complementar a minha carteira com as diferentes estratégias disponíveis visando ganhos a longo prazo, seja renda fixa, ações locais, ações no exterior, FIIs”, relatou Tiglia.

Gentile complementou o pensamento de Tiglia. “Minha política é sempre diversificar, independente da estratégia que o investidor está seguindo, como forma de diminuir o risco da carteira e não ficar exposto a uma só tese”, afirmou

O que configura uma carteira de investimentos diversificada? 

Após afirmar que não defende uma concentração dos investimentos e sim uma variedade no aporte do capital, Tiglia explicou que um portfólio diversificado se define pelas diferentes estratégias tomadas pelo investidor, todas tendo o retorno a longo prazo como objetivo.  

“Uma carteira diversificada é uma carteira que contém diferentes estratégias/ativos que se complementam. Pense em um time de futebol, não existe um time formado somente por atacantes, ou só por goleiros, mas sim diferentes perfis (posições) que buscam um objetivo comum, que é o retorno a longo prazo (no exemplo do futebol, seria vencer um campeonato)”, contou.  

Segundo Lima, a diversificação de uma carteira passa pela quantidade de setores investidos, além de uma variação das estratégias.

“Diversificar é investir em vários setores, e ter estratégias como valorização e dividendos”, relatou.

Os dividendos seriam apenas um “bônus”, sendo a valorização da ação algo mais importante? 

“Não é um bônus, mas sim uma das formas de gerar valor para o acionista. Cada empresa entende como é a melhor forma de gerar valor para o seu acionista, seja através do reinvestimento do lucro para crescimento ou através da distribuição de dividendos. Depende muito de momento, maturidade do negócio, estratégia, etc”, afirmou Tiglia

Segundo Lima, é essencial tanto focar na valorização das ações quanto no ganho de dividendos. “Acredito que os dois pontos devem ser levados lado a lado, focando na diversificação e rentabilidade do capital a longo prazo”, explicou. 

Gentile reitera que não pensa que os dividendos sejam como uma espécie de bônus, mas sim como uma remuneração da empresa para seu acionista.

“Existem estudos que mostram que no longo prazo a maior parte do ganho e valor gerado das ações advém dos dividendos, portanto ele não é somente um bônus e sim a empresa remunerando o capital do seu acionista”, relatou.