Carnê do Magalu (MGLU3) chega a dobrar valor de produtos

Forma de crédito exige uma entrada de mais de 30% do preço inicial da compra

Comprar no carnê do Magazine Luiza (MGLU3) pode não ser tão bom assim, já que os preços chegam a dobrar em certos produtos. A compra pelo carnê, ressuscitada pela presidente do conselho do Magalu, Luiza Helena Trajano, exige uma entrada de mais de 30% do valor do produto, o que faz uma geladeira, por exemplo, dobrar de preço: de R$ 3.400, o produto passa a custar R$ 6.800 em 18 meses, segundo apuração do UOL. 

Em nota, a empresa contesta os números, diz que seus juros estão de acordo com o mercado e que o foco é o cartão de crédito, com taxas menores.

Além de facilitar as compras, a ideia do carnê era trazer de volta para as lojas cerca de  milhões de clientes da rede que já estão cadastrados na empresa. “Lembra daquele carnezinho gostoso? Vai ser em prestações que você pode pagar e a gente ainda vai dar um descontinho no juro. Vá o mais rápido possível para uma de nossas lojas, por favor”, disse Luiza Helena Trajano em vídeo enviado para cerca de 5 milhões de clientes da rede.

Para saber qual era o valor e como funcionava a forma de crédito do Magalu, a reportagem do UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa da empresa, que não repassou os valores nem comentou os juros cobrados. Ao visitar uma loja física, o UOL constatou que uma geladeira vendida no carnê em 18 meses dobra de valor.

Dessa forma, para comprar através do “carnezinho gostoso”, é preciso pagar uma entrada à vista em qualquer produto. O restante é pago no carnê. O prazo mais comum, segundo uma vendedora da loja entrevistada pelo UOL, é dividir o pagamento em 18 meses.

Ainda assim, a taxa de juros varia para cada produto. Para alguns, as condições são melhores. É o caso de um colchão Probel Queen, de molas, com preço à vista de R$ 2.360. A loja pede R$ 700 de entrada mais 18 parcelas de R$ 135 no carnê. O total fica em R$ 3.130, um aumento de 33%, segundo o UOL. 

Redes de varejo como Casas Bahia e Magazine Luiza compram de seus fornecedores com um prazo para pagar bem menor do que o que dão para seus clientes, disse Wagner Varejão, economista da Valor Investimentos, ao UOL. Se o cliente paga em 18 meses, a loja tem no máximo 90 dias para pagar aos fabricantes. Tudo isso entra na conta dos juros. Quanto maior o prazo para pagar, maior a taxa. Por isso, as lojas cobram juros tão altos.

Mesmo assim, especialistas consultados pelo UOL entendem que o consumidor se submete a juros absurdos. Dessa forma, mesmo com a Selic a 13,75% ao ano, os juros para o cliente chegam a 100% ou até mais. Além disso, a chance de calote é alta – já que o carnê é pago em várias parcelas -, o que também entra na conta para a taxa. 

Magalu contesta valores

Questionado sobre os juros altos, o Magazine Luiza disse que a conta apresentada não é real, mesmo que a reportagem do UOL tenha feito a consulta presencialmente numa loja da rede. O Magalu argumenta que a preferência é o uso de cartão em vez do carnê e que seus juros estão dentro dos cobrados no mercado lojista. 

“Os valores apresentados nos exemplos citados não refletem a realidade dos juros de CDC [crédito direto ao consumidor, pelo carnê] do Magalu”, disse a empresa. 

“As principais ferramentas de crédito, no Magalu, são os cartões da empresa – Magalu Card e Cartão Magalu. Eles correspondem a 35% das vendas nas lojas. Os cartões de terceiros representam outros 35% das vendas. O CDC é mais uma ferramenta de crédito usada por quem não tem acesso a cartões. Ele corresponde a apenas 6% das vendas em nossas lojas”, reiterou o Magalu.

Ainda, a empresa disse que os juros cobrados estão em linha com o mercado. “O foco no cartão de crédito na estratégia do Magalu também foi evidenciado em campanha recente de crédito pré-aprovado, na qual 80% dos clientes eram elegíveis aos cartões da empresa”, finalizou ao UOL.