Assaí (ASAI3) e Atacadão são “luz no fim do túnel” para o consumidor e mercado na crise

Com preços mais baixos, categoria triplicou participação nos últimos quatro anos e tem 66% de penetração em domicílios

O Assaí (ASAI3) e o Atacadão, do grupo Carrefour (CRFB3), surfam uma onda que bate para poucos no mercado brasileiro. Enquanto o varejo alimentar míngua números fracos graças à pressão do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acumulado em 10,54% nos últimos doze meses, o modelo do atacarejo é uma luz no fim do túnel para o consumidor. Não só para ele, aliás, como também para seus controladores. 

Prova é que, nos últimos quatro anos, a categoria conseguiu praticamente triplicar sua fatia no varejo alimentar no Brasil, de 15% para 44% da receita, segundo a consultoria Nielsen. Desde o início da pandemia, o segmento também voltou a ser o preferido pelos brasileiros, com 66% de penetração nos domicílios.   

Relatório da XP sobre o setor aponta a sólida performance de vendas mesmas lojas, que mede a performance por ponto de venda, com Atacadão superando o Assaí. A bandeira do grupo Carrefour, aliás, foi a salvação da empresa no último trimestre, puxando os resultados de forma consistente.

Entre janeiro e março deste ano, as vendas brutas do Atacadão cresceram 18,6% no trimestre, enquanto as do segmento de varejo subiram 8,4%. Em geral, a companhia faturou R$ 20,8 bilhões no País, o que corresponde a um avanço de 14,5% na base anual. 

As vendas mesmas lojas do Atacadão tiveram alta de 9,2% ano contra ano, o que a companhia francesa atribui à normalização de volumes e a uma estratégia mais assertiva de estocagem. Essa visão do negócio teria garantido mais competitividade aos preços do atacarejo, categoria que já opera com uma vantagem de cerca de 15% em relação ao resto do setor, de acordo com a última leitura da Nielsen. 

Já as vendas em lojas Assaí cresceram em média 6,7% na base anual, uma desvantagem em relação à concorrente que os analistas da XP creditam à adição das lojas Makro na base de comparação. Por outro lado, a expansão do grupo, que tem 216 lojas em operação hoje no País, garantiu o crescimento de 21% das vendas brutas – 2,5 pontos percentuais acima da rival – ante o mesmo período do ano passado. 

Os atacarejos ainda se destacam nas operações de crédito, as mais rentáveis nos gigantes do varejo alimentar. No Carrefour, o aumento de 11% do faturamento com o cartão no primeiro trimestre foi puxado pelo desempenho da bandeira Atacadão, que deu um salto de 15% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em apresentação preliminar dos resultados, o Assaí não divulgou sua performance nessa frente, em que tem o cartão Passai.

Para Eduardo Terra, presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo) e membro de conselhos do setor, o impacto do aumento de custos empurra o consumidor brasileiro para a ponta do varejo alimentar, ou seja: para o atacado.

Ele lembra que a maior parte dos trabalhadores é autônoma e, portanto, não tem a proteção de dissídios ou de indexação da renda. “Ainda há incertezas, mas a perspectiva para o ano não é boa”, disse.

Só que este cenário é favorável para o atacarejo, que prospera, paradoxalmente, na crise. Isso porque o consumidor tende a adotar o hábito de fazer abastecedoras (em grandes volumes) na crise.

O modelo de atacado avançou no mercado porque entrou no radar de mais gente. Embora não seja uma categoria de compra rotineira, é a que apresenta a melhor oferta para o consumidor economizar no preço da unidade. 

Prosperidade fez o atacarejo voltar a expandir no Brasil em 2021

As redes seguem em franca expansão, inclusive com unidades mais próximas dos centros das capitais e de cidades referência. É o caso do Assaí, que comprou os direitos de 70 lojas Hiper Extra no País do Grupo Pão de Açúcar e pretende inaugurar 40 delas ainda neste ano. Isso significa que os atacarejos conseguirão estar cada vez mais perto da casa dos consumidores. 

Outra oportunidade que aparece para o setor agora é a saída do Makro. A marca está dando adeus ao Brasil depois de cinco décadas em operação. Há dois anos, a rede já havia repassado 30 lojas para o Atacadão, o que iniciou rumores sobre o fim da bandeira. 

Com a confirmação, iniciou-se uma disputa pelos 24 pontos de venda do Makro remanescentes no País, um negócio avaliado entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, segundo apurou o jornal “Valor Econômico”. A oportunidade de crescer a fatia no pujante setor do atacarejo está sendo intermediada pelo Banco Santander. A prioridade para aquisição é das grandes redes, como Atacadão, Assaí, Fort Atacadista e Grupo Muffato. 

Depois de pagar R$ 5,1 bilhões pela rede do Extra Hiper e ter ainda mais 48 terrenos para explorar, seguindo para os centros das cidades, o Assaí parece um candidato pouco provável para fechar o negócio. Há grandes chances que o Atacadão, por pertencer a um conglomerado forte como o Carrefour, use seu poder de fogo para bater de frente com o maior concorrente no Brasil hoje. Por ora, a única certeza é que espaço e horizonte para crescimento é o que não faltará ao atacarejo.