Acordo Gol (GOLL4) x Avianca pode trazer aumento de preços das passagens e rentabilidade

Analistas consultados pelo BP Money falam sobre perspectivas para a Gol após acordo para criação de uma holding (Grupo Abra) junto a Avianca

Pandemia, aumento dos combustíveis, dólar em alta, atividade econômica em desaceleração e inflação. Esses fatores, somados a Selic atual, influenciaram negativamente as operações das empresas do setor aéreo nos últimos anos. A Gol (GOLL4) sentiu na pele os efeitos da pandemia e viu na junção com a Avianca, uma oportunidade para escapar dessa tempestade. Analistas ouvidos pelo BP Money destacaram que o acordo entre Gol e Avianca pode representar uma maior rentabilidade para a empresa brasileira, com o aumento dos preços nas passagens.

Para Khalil de Lima, analista de equities da Reach Capital, este é mais um movimento para sinergia de operações, que busca consolidar ambos negócios. “A gente viu diversas empresas aéreas com dificuldades financeiras e a fusão vem nesse sentido de combinar duas empresas, racionalizar rotas e preços para poder atravessar este momento”, disse.

O movimento de fusão tem acontecido com diversas empresas, não só do setor aéreo, mas de outros setores bastante afetados pela pandemia e pelo cenário macroeconômico, como varejo e shoppings, por exemplo. A pandemia afetou todas as empresas aéreas, tanto nos custos quanto na demanda, e o movimento de fusão deve servir exatamente para racionalizar tudo isso, e aumentar o ticket de passagem, como explica Khalil. 

“Uma vez que você não consegue controlar o dólar, nem a gasolina, você deveria repassar isso no preço da passagem, para poder amenizar tudo. Quando você junta empresas, você acaba juntando rotas, domina uma certa rota e consegue colocar o preço que você quer, porque não vai ter ninguém oferecendo mais”, explicou o analista. 

De acordo com Khalil, no curto prazo a criação desta holding não deve ter tantos efeitos nos resultados da Gol. 

“Talvez a gente possa ver um poder de repasse maior no ticket da passagem e, eventualmente, você vai aumentar a rentabilidade do grupo como um todo. Para o fim do ano, o que a gente está olhando é a questão de liquidez. Temos que ver quais são os termos financeiros dessa fusão, se vai ter algum desembolso de caixa ou não, pra gente ter um pouco mais de ideia do impacto disso para a Gol e para a holding que vai ser formada”, afirmou Khalil. 

Em relação às ações, o analista afirma que o setor, se visto com cautela, pode sim ser uma oportunidade para investimento. Mesmo assim, os ventos sopram contra as aéreas no mercado.

“O setor aéreo pode ser uma boa oportunidade de investimento sim, mas tem que ter um pouco de cautela. As aéreas nunca viram, no passado, o combustível e o dólar nesses níveis”, disse.

“Geralmente, quando um estava pra cima o outro estava pra baixo, então acabava compensando. Só pra ter uma ideia, o custo de combustíveis que giravam em torno de 35% antes, hoje gira em torno de 50%, aí você tem manutenção, arrendamento das aeronaves, que é dolarizado, então é um momento bem crítico. Tem que olhar a liquidez das empresas para o fim do ano. O mercado está olhando muito para a questão de combustível e dólar, para saber se no longo prazo essas empresas vão continuar sendo sustentáveis”, pontuou o analista. 

Já para Breno Bonani, analista chefe da VGR Asset, existem outros setores muito mais interessantes para investimento neste momento, e, na visão do especialista, as aéreas ainda enfrentarão um cenário desafiador.

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“As minhas perspectivas tanto para a Gol quanto para a Azul e para o setor como um todo não são muito boas. Não acho que seja um setor interessante para o investidor no médio ou no longo prazo. Já se provou ser um setor extremamente difícil de investimento”, disse Bonani.

“Ainda julgo que é bastante desafiador o cenário para o setor. Acho que tem outros setores muito mais atraentes. O setor de commodities está bastante atraente. O setor de consumo de varejo, voltado para o essencial, como atacadistas e farmácias, que com o fim do ciclo da alta de juros podem ser beneficiados”, complementou.

Bonani também explicou que existem, para além da Gol, outras companhias que são mais descorrelacionadas com a conjuntura da economia atual. Entre os exemplos dados pelo analista está o setor de varejo pet e o setor de luxo, que conta com empresas como Vivara e JHSF. “Acho que o investidor ficaria melhor se fosse para esses setores. O setor de aviação é um setor que a gente tem que evitar”, concluiu o analista.