Vale a pena investir em empresas estatais?

Com números trimestrais expressivos, mas com foco de lucros a acionistas distante, o investimento levanta dúvidas no mercado

Muitas empresas estatais, controladas pelo Governo Federal, são negociadas diariamente na Bolsa de Valores brasileira. No principal índice da B3, o Ibovespa, dentre as 81 companhias compostas em sua carteira, 9 eram estatais, até abril deste ano. Contudo, como todo o investimento, a compra de ações de corporações públicas apresentam um lado positivo e um negativo.

Apesar de serem importantes para a Bolsa, as empresas de capital público podem ser um investimento arriscado, principalmente em momentos de instabilidade política. Entenda agora se ainda vale a pena investir em estatais.

Os Prós e Contras

Diversas companhias de capital público e misto pagam dividendos considerados atrativos pelo mercado, o que faz muitos investidores olharem com bons olhos para elas. As estatais normalmente são empresas que são mais antigas e possuem variação de caixa bastante previsível e, por conta disso, são boas pagadoras de dividendos.

Além disso, as estatais normalmente possuem números bastante expressivos, a Vale, por exemplo, registrou lucros de R$ 39,06 bilhões durante o segundo trimestre deste ano, sendo considerada o principal destaque do período.

Porém, como dito acima, todo investimento possui um lado negativo. Por serem empresas vinculadas ao Estado, elas variam conforme as especulações do governo. Por exemplo, entre 19 e 22 de fevereiro de 2021, três das principais estatais da Bolsa, Banco do Brasil, Eletrobras e Petrobras, acumularam perdas de R$ 113,2 bilhões, segundo o Economática. O motivo? A repercussão de uma suposta intervenção do governo nas diretorias dessas empresas.

Outro fator negativo para as estatais é o objetivo da companhia de capital público, a finalidade das estatais não é necessariamente gerar lucro aos seus acionistas, mas gerar o bem-estar na população, o que, em decisões importantes, pode decepcionar os investidores.

“Às vezes os gestores dessas empresas acabam deixando de lado o objetivo de lucro, para olhar para o social. Isso acontece, por exemplo, quando a empresa deixa de repassar o preço da gasolina, ou uma empresa de saneamento segura tarifa do setor”, afirma especialista do Suno Research, João Arthur.

Falando em gestão, é importante destacar que muitas empresas estatais são administradas por pessoas indicadas por políticos que estão no poder. Isso também é um fator que influencia bastante na hora do acionista fazer sua escolha entre investir em uma estatal ou em uma empresa privada. Pois, historicamente no Brasil, os políticos não possuem perfil de bons gestores, o que pode diminuir a confiança dos investidores em uma determinada empresa.

Afinal, vale a pena investir em estatais?

De acordo com o analista da BP Money, Nathan Meirelles, apesar dessas empresas apresentarem números interessantes, ele alertou que as estatais dependem diretamente da “boa vontade” do governo e que muitas companhias possuem escândalos no passado.

“Mesmo com os números bons sempre paira na cabeça do investidor, ‘será que o governo vai intervir? E se intervir vai ser para melhor para o governo ou para a empresa?’ Quando a gente faz a análise de uma empresa dessas é recomendo que sempre seja colocado um prêmio de risco”, disse o analista.

Meirelles ressalta que realizar os investimento em estatais é bom no ponto de vista contábil e econômico, mas que o investidor precisa ter em mente que as ações estão sujeitas a oscilações a falas de políticos ligados a empresa, a intervenção do estado e a ciclicidade política que ocorre de tempos em tempos no período de eleições.

“Se considerarmos o período atual de incertezas e de eleições em 2022, o investimento em estatais é ainda mais arriscado, não sabemos quem será o próximo presidente e seus projetos. Independente de quem seja eleito para a presidência, ainda existem os governos estaduais que podem divergir politicamente do próximo chefe de estado”, completou Meirelles.

Para o professor de economia da Faap, Johnny Silva Mendes, o movimento de compra de ações deve ocorrer quando há evidências de que a privatização de uma companhia irá ocorrer. Os ganhos relacionados à Eletrobras, por exemplo, já foram colocados no bolso pelo investidor na opinião do especialista.

“A compra dos papéis deveria ter sido feita há dois anos. Neste momento que a companhia está em processo de finalizar a privatização, o investidor até vai ter um ganho, porém menor”, concluiu Mendes.