No novo Stock Pickers, o foco está na evolução do mercado (e não na concorrência)

Sob nova gestão desde janeiro, projeto segue diretriz de qualificar a discussão do mercado acionário e vem quebrando recordes de audiência

O Stock Pickers vive uma nova era desde a saída de seus criadores. Com a ausência de quem começou o projeto, que nos últimos três anos personificou a proposta da plataforma, o Stock Pickers mexeu na grade de programação e mudou a estrutura de apresentação a fim de focar mais na evolução do mercado de capitais brasileiro e não se preocupar (tanto) com a nova concorrência.

Hoje mais capilarizado, com um elenco maior – capitaneado por Lucas Collazo e Henrique Esteter – e programas mais especializados, a atual liderança do Stock Pickers escreve um novo capítulo do projeto, com forte diretriz para qualificar a discussão do mercado acionário.

Sem rusgas ou ataques públicos. A despedida da última gestão não revelou dramas de bastidores, mas Thiago Salomão relatou ter chegado a um impasse sobre a condução do projeto dentro da XP, o que teria influenciado a decisão pela sua saída. Falava-se então sobre um possível spin-off da plataforma, o que não deve acontecer – ao menos por ora.

Ao BP Money, o apresentador Lucas Collazo garante: o Stock Pickers segue como projeto dentro do “InfoMoney”, braço de conteúdo do grupo XP. 

“O DNA de autonomia permanece intacto. No Stock Pickers, sempre demos muito peso à independência para produzir nosso conteúdo e definir nossas pautas, além dos convidados e convidadas para os programas. E isso não se altera”, concluiu Collazo, que se juntou à plataforma ainda no primeiro ano do projeto, em 2019.

A ideia de rivalizar com Salomão é rechaçada no Stock Pickers. Especialista em alocação e em fundos, Collazo deixa bem claro que o inimigo dessa cruzada é outro. “Temos R$ 3 trilhões mal alocados em ativos como poupança, por exemplo, com os grandes bancos. Nosso concorrente não é o Market Makers ou qualquer outra plataforma de conteúdo desse segmento, e sim a falta de educação financeira no Brasil”, enfatizou.

A sustentação do crescimento do Stock Pickers mesmo com a crise no mercado

Em janeiro deste ano, a B3 ultrapassou cinco milhões de contas de pessoas físicas abertas em corretoras no Brasil. A migração do investidor de varejo para a renda variável foi significativa nos últimos três anos, desde que o Stock Pickers nasceu. Nesse período, o volume de CPFs únicos na bolsa cresceu cinco vezes na comparação com 2019. 

Não o suficiente, no entanto, para ser considerada uma penetração relevante no mercado nacional. Partindo desse princípio, Collazo entende que há espaço para outras plataformas de conteúdo por aqui sem que haja canibalização da audiência. 

“Nosso público consegue absorver mais de um desses produtos. Claro que o ouvinte tem predileção por um ou outro programa, mas, no fim do dia, está atrás de conteúdo isento de interesses comerciais e com informação relevante”, explicou o analista.

Diante da fuga do investidor para a renda fixa, o Stock Pickers está batendo recordes de audiência. Contraditório, não? Collazo pontua que essa interpretação está ligada a um recorte superficial do cenário para o mercado. 

Mesmo que a Selic (caminhando para os 13,75% ao ano) ainda seja “o maior educador financeiro no Brasil”, diz, em referência ao impacto da taxa básica de juros sobre o fluxo de capital, os juros não são eternos. Disso sabemos bem, já que, menos de dois anos atrás, a taxa estava em 2% ao ano no País. 

A lógica de Collazo é que, ainda que a Selic tenha desacelerado o ritmo de investimento no mercado de ações, a tendência de crescimento se mantém. Da parte do Banco Central, a perspectiva para a descida dos juros do patamar atual já foi decretada para 2023.

“Além disso, o movimento de investidores entrando nesse segmento no Brasil é irreversível, e o ritmo deve ser retomado no tempo. Basta ver a quantidade de agentes que apareceram no mercado”, disse o apresentador do Stock Pickers.

O público investidor continua curioso e, ainda que passe a investir em renda fixa, segue um perfil engajado com o tema. Mas o que impulsionou o Stock Pickers para os recordes de visualizações e audiência agrupada no mês foi a capilarização do conteúdo, na leitura de Collazo. 

As mudanças vieram na nova gestão e começaram a ser pensadas ainda em janeiro deste ano. O Stock Pickers segue focado no mercado acionário brasileiro, mas expandiu sua abordagem para outros temas, como o cenário macroeconômico e mercados globais, que – agora mais do que nunca – interferem na visão de investimento.

“O projeto nasceu para levar a experiência que antes estava restrita ao investidor institucional para o investidor geral. Percebemos que havia dores comuns nesses grupos, como a falta de tempo, então pensamos em produtos que atendessem essas necessidades”, explicou.

De fã a apresentador do Stock Pickers, Collazo entrou no grupo XP em 2017, como assessor de investimentos. Passou para a área de Research, inicialmente como analista de fundos de investimentos, e assim foi evoluindo e expandindo sua cobertura. Em 2019, começou a participar de alguns programas do Stock Pickers como especialista até ser convidado a integrar o time fixo.

Hoje, é parado na rua pelo investidor de varejo e abordado por especialistas para tratar de alguma pauta levantada nos programas. “Recebemos retorno de analistas de fundos de ações que começaram a cobrir empresas por conta de algum episódio”, contou.

A evolução do público junto com o mercado de investimentos no País provocou a reformulação pela qual o Stock Pickers passou neste ano. A especialização da pauta e aprofundamento das discussões, lideradas por especialistas, ajuda o projeto a ampliar seu alcance em um grupo mais qualificado – também mais fiel ao mercado de ações.

Mas o Stock Pickers não largou mão do varejo. A ideia é que o nível do investidor geral subiu, por isso esse público também se interessa pelas discussões aprofundadas. Então, mesmo com novos formatos, a proposta segue a mesma que alçou a plataforma à fama.

Afinal, o que esperar da nova era do Stock Pickers?

A linguagem despojada e a postura informal seguem sendo a marca do Stock Pickers. É o que explica seu sucesso no mercado e já está no DNA da equipe no projeto. A ideia é traduzir assuntos complexos – que antes entravam na pauta apenas dos grandes investidores – para um tom “de conversa de uma roda de amigos”, sem comprometer a qualidade da discussão. 

Quando surgiu, em 2019, foi como se o Stock Pickers tivesse derrubado os muros de um mundo até então inacessível ao investidor comum. Por isso não muda essa sua característica, mesmo sob nova gestão. 

“Mantivemos o papo descontraído e instrutivo que já é a essência do Stock Pickers. O que fizemos foi dar capilaridade e escalabilidade a essa proposta”, disse Collazo.

Parte da nova proposta do Stock Pickers está apoiada no lançamento de projetos, que devem chegar ao mercado ainda neste ano, mas correm sob sigilo absoluto. O modelo deve fugir do padrão de produtos de educação financeira no formato de assinatura. 

E é difícil arrancar mais que isso de alguém envolvido nesse planejamento. “Posso dizer que seguiremos nossa filosofia de combinar nossa paixão pelo mercado financeiro com a habilidade de transmitir um conteúdo aprofundado mas fácil”, contou o analista. 

Nas plataformas, os programas se multiplicaram e estão mais focados. O time de apresentadores cresceu para acompanhar a cobertura, agora mais segmentada. 

A maioria (senão todos) já conhecida do grande público. Nomes como Pam Semezzato, Jennie Li, Rachel de Sá, Tiago Reis, Fernando Ferreira, Henrique Esteter e o próprio Collazo. Em comum: são especialistas com background e vasta experiência no mercado financeiro. 

“Nós estamos atrás de informação relevante para o investidor e que muitas vezes não ganhou os holofotes ainda. A ideia é trazer isso para a mesa de um jeito palatável e com o DNA dessa equipe experiente e que tem uma visão aprofundada de análise de mercado”, resumiu o apresentador do Stock Pickers.