Nova regra da Anbima afeta decisões para carteiras de pessoa física; entidade revisa certificações

Com vigência a partir de janeiro de 2023, resolução impõe que títulos de dívida privada sejam marcados a mercado

Uma nova regra da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) que será implementada a partir do ano que vem deve provocar ajustes nas decisões dos gestores de investimentos. De acordo com a resolução da entidade, títulos de dívida privada que estão nas carteiras de pessoas físicas terão que ser marcados a mercado a partir do dia 2 de janeiro de 2023.
 
Na prática, a determinação implica que as oscilações de preço sofridas pelos papéis em carteiras sejam informadas aos clientes. A medida vale para debêntures – incentivadas ou tradicionais, CRAs e CRIs (os certificados de recebíveis do agronegócio e imobiliários, respectivamente) e títulos públicos comprados por meio do sistema Selic. 
 
A mudança deve conferir mais transparência e permitir que o investidor decida se deve ou não seguir na posição. Segundo a analista de renda fixa e sócia-fundadora da Nord Research, Marilia Fontes, a grande diferença é que a pessoa física passará a ter mais visibilidade da performance dos papéis e se há perdas significativas em algum deles. 
 
Neste momento, somente os fundos de crédito fazem a marcação a mercado. O investidor só consegue visualizar o valor desses papéis quando carregados até o vencimento (considerando também a variação do CDI ou do IPCA). A partir do ano que vem, segundo Marilia, ficará mais transparente ao investidor da carteira de pessoa física como funcionam os papéis,o que confere liberdade sobre a manutenção da posição nesses investimentos.

Mudança faz parte de projeto da Anbima para revisar certificações 

Neste ano, a Anbima celebra os 20 anos desde que a primeira prova de certificação para profissionais que atuam junto a investidores foi realizada. Com a efeméride, a entidade trabalha em uma série de mudanças e novas diretrizes em relação às certificações que devem ganhar corpo e ser anunciadas em 2022.

Tido como um dos cinco grandes projetos para o ano, a revisão da arquitetura de certificação deve lançar luz aos novos territórios e atividades não cobertas pela entidade. As medidas devem impactar, em menor ou maior escala, a rotina de quase meio milhão de profissionais já certificados. 
 
A entidade vem conduzindo um amplo estudo para identificar se os escopos das suas certificações compreendem a nova cena no mercado de capitais brasileiro. Com o País incorporando soluções mais maduras e a diversificação de figuras no setor financeiro, como as fintechs e plataformas independentes, a Anbima entendeu que era preciso rever as titulações.

Ao site “Valor Investe”, o superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da Anbima, Marcelo Billi, explicou que a proposta é também aproximar a entidade do público, que mudou muito nos últimos seis anos. “Hoje, temos jovens a partir dos 14 anos, estudantes, e profissionais que nem precisam da certificação e procuram as nossas provas pela distinção que elas representam. A relação cresceu muito, o que nos coloca numa operação de varejo e exige essa revisão crítica”, disse em entrevista.