Haddad na Fazenda: como isso afeta a Bolsa?

De acordo com especialistas, cenário para a Bolsa de Valores nos próximos anos não é positivo

O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi anunciado pelo governo na última sexta-feira (9). O principal índice de ações da Bolsa de Valores brasileira (Ibovespa) fechou, no dia do anúncio de Haddad, em alta de 0,36%. A leve alta mostrou um pouco da opinião do mercado sobre a nomeação de Haddad, segundo especialistas.

Para Rafael Ragazi, sócio e analista de ações da Nord Research, a nomeação de Haddad não foi uma surpresa para o mercado, já que há algumas semanas Lula já indicava que iria fazer isso. Por outro lado, a “falta de reação” do mercado não anula o fato de que a sinalização foi negativa, segundo o especialista.

“Haddad já tinha ido representar o Lula na reunião da Febraban. Já estava fazendo reunião com Guedes, já tinha sido nomeado como parte da equipe de transição, já tiveram várias sinalizações prévias de que isso ia acabar acontecendo”, disse Ragazi. 

“O mercado ficaria muito mais tranquilo com a nomeação de um nome mais técnico, não ligado ao PT, pró-mercado, porque essa pasta, o cargo de ministro da fazenda, poderia ser atribuída a alguém que iria frear os gastos. Com uma pessoa do perfil do Haddad, essa expectativa de que ele vai tentar conter os gastos do governo é baixa”, complementou Ragazi.

Segundo o analista da Nord, o cenário para a economia e, consequentemente, para a Bolsa de Valores não é positivo para os próximos anos. De acordo com Ragazi, as perspectivas para os próximos anos são de juros em alta, levando um certo tempo para começar a cair. 

“Quando a gente olha para os próximos anos, o que a gente vê é um cenário de aumento da inflação, principalmente por conta do aumento dos gastos do governo. Isso leva a aumento dos juros também, então o cenário é de uma economia enfraquecida. Para pagar essa conta, vamos começar a ver aumento de imposto, porque só se paga aumento de gasto público com inflação e com imposto”, explicou Ragazi. 

O especialista reforçou que, tão importante quanto o anúncio de nomes para as pastas, o governo eleito ainda não deu sinalizações fiscais que possam trazer segurança ao mercado, o que influencia negativamente a Bolsa. 

“A gente não teve até agora uma sinalização de grande preocupação com responsabilidade fiscal, o que seria positivo para o mercado. A gente também está vendo que as nomeações para as pastas, em Brasília, estão sendo muito mais voltadas para fins políticos do que preocupadas com a capacidade técnica”, destacou Ragazi. 

De acordo com Paulo Luives, da Valor Investimentos, o mercado já tinha precificado a notícia de Haddad na Fazenda, porém existe espaço para uma queda adicional, já que agora o principal ponto que o mercado vai monitorar é em relação à formação da equipe que Haddad vai montar.

“Um nome político para o ministério da Fazenda já era esperado, o que o mercado ainda não tem clareza é sobre a equipe econômica por trás. Por isso, a depender da equipe que será formada, o mercado pode reagir de maneira adversa”, disse Luives.

Haddad disse, na última segunda-feira (12), que deveria começar o anúncio dos primeiros nomes de sua equipe nesta terça (13). Segundo Haddad, sua ideia é montar uma equipe “plural, com pluralidade de vozes”. 

Responsabilidade fiscal é a maior preocupação do mercado 

Assim como Luives e Ragazi, o analista CNPI, fundador da Ativo Investimentos, Diego Hernandez, acredita que a transparência com que Haddad vai lidar em relação ao ponto de responsabilidade fiscal vai ser a tônica para o mercado elevar ou diminuir as perspectivas econômicas.  

“A gente sabe que é um governo mais expansionista, um governo mais atrelado ao bem estar social do que necessariamente a atender o mercado, mas é um governo que precisa também do mercado para que os objetivos sejam atingidos”, disse Hernandez. 

“A forma como o ministro da Fazenda irá tocar as reformas estruturais para garantir uma situação fiscal de mais solvência nesse governo expansionista é o que vai fazer com que o mercado se acalme um pouco”, acrescentou Hernandez. 

O analista da Ativo Investimentos afirmou que a primeira reação do mercado não foi muito boa do mercado, já que a curva de juros do longo prazo está abrindo consideravelmente. 

“Se você olhar o tesouro IPCA 2045, que é um dos títulos mais longos que a gente tem do governo, chegou a bater IPCA + 6,32%, então o mercado tem precificado um aumento futuro na curva de juros. Com juros mais elevados, a Bolsa tende a ter um desconto maior. Hoje a Bolsa está operando abaixo dos 105 mil pontos, então nesse primeiro momento o mercado vive uma expectativa não tão favorável”, explicou Hernandez.
 
Em um primeiro momento, segundo Hernandez, enquanto os projetos de Haddad não forem tão claros, o mercado vai precificar negativamente, até que haja uma sinalização de responsabilidade fiscal. O desafio para o novo governo, segundo o especialista, é “gigante”.

“A gente já tem a projeção de um PIB mais fraco em 2023, abaixo de 0,5%. Inflação elevada ainda em 2023 com juros elevados e ainda uma possível recessão internacional. Temos um déficit PIB muito alto por conta da pandemia, chegou a bater 80% de dívida pib, estamos perto de 75%, isso é extremamente elevado, mas a medida que tivermos projetos cada vez mais claros e mais definidos relacionados à responsabilidade fiscal, a gente tende a ter uma redução dessa equação”, concluiu Hernandez.