Bitcoin tem fama libertário, mas é afetado por ambiente macroeconômico

Diversos executivos do ramo têm perdido muito dinheiro em maio a baixa no setor de criptomoedas

O Bitcoin está em baixa e tem uma desvalorização de 57% nos últimos seis meses. Os números negativos ocorrem após um recorde positivo da moeda digital em novembro do ano passado. Especialistas entrevistados pelo BP Money acreditam que o cenário de retração da economia global impactou o valor da criptomoeda.

“Esta é a primeira vez, de todas as quedas, que o Bitcoin está sofrendo uma retração por conta de fatores macroeconômicos. A guerra entre Rússia e Ucrânia, o lockdown em diversas cidades da China e a inflação generalizada no Brasil e nos EUA está afetando muito a moeda digital”, afirma Fabio Louzada, Analista CNPI e CEO da Eu me banco.

Em um momento em que os investidores querem investir em ativos mais seguros, a criptomoeda é um dos ativos mais voláteis. “Não recomendo que ninguém tenha mais que 5% de criptomoedas em sua carteira de investimentos, em períodos de instabilidade global, os investidores saem correndo das moedas digitais”, acrescenta Louzada.

Os sucessivos aumentos da taxa de juros nos EUA também contribuem para este cenário. De acordo com o FED, o banco central norte-americano, a política monetária do país deve sofrer mais apertos nos próximos meses com o intuito de combater a inflação.

Em meio a desvalorização das criptomoedas, diversos executivos do ramo têm perdido muito dinheiro. Brian Armstrong, CEO da Coinbase, maior plataforma norte-americana para a comercialização de moeda digital, perdeu 83% de sua fortuna em questão de meses. O montante que antes era de 13,7 bilhões passou para 2,3 bilhões, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg.

As ações da Coinbase despencaram em mais de 85% nos últimos seis meses e registraram o seu menor valor histórico. Durante a apresentação dos resultados trimestrais a companhia afirmou que pode chegar a declarar falência.

Os concorrentes da Coinbase também foram afetados. Tyler e Cameron Winklevoss, investidores de bitcoin e conhecidos pela disputa judicial contra o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, perderam 40% de seu patrimônio com a retração das criptomoedas.

O Analista CNPI e CEO da Eu me banco acredita que a melhora dos indicadores de Bitcoin passa pela retomada da economia. “Caso a China reabra as fronteiras e os casos de Covid-19 diminuam e os EUA consigam chegar em um patamar ideal de juros em que a inflação não suba mais, o investimento em bitcoin pode aumentar.”

“Se a bolsa americana continuar com quedas bruscas, provavelmente o mercado de Bitcoin vai continuar se desvalorizando”, analisa Raquel Vieira, especialista em criptomoedas da Top Gain.

Bitcoin: Warren Buffett dá declaração polêmica sobre a moeda digital

O período de retração das criptomoedas abriu espaço para a discussão sobre a rentabilidade de seus ativos. O empresário e CEO da Berkshire Hathaway (BERK34), Warren Buffett, de 91 anos, afirmou no mês passado que não compraria todas as unidades de Bitcoin disponíveis no mundo nem por US$ 25.

De acordo com ele, os EUA não tem motivo nenhum para aceitar a moeda digital, ou qualquer tipo de criptomoeda. Para o CEO da Berkshire Hathaway, o dinheiro digital não produz nada. Ele admitiu que não tem nenhuma previsão em relação ao valor do criptoativo para os próximos cinco ou 10 anos.

“Se você me dissesse que possui todos os Bitcoins do mundo e me oferecesse por US$ 25, eu não aceitaria. O que eu faria com isso? Eu teria que vendê-los de volta para você de uma forma ou de outra. Ele não vai fazer nada. Os apartamentos vão produzir renda e as fazendas vão produzir alimentos”, declarou Warren Buffett na conferência anual de acionistas da Berkshire Hathaway.

“O Bitcoin é um mundo à parte do mercado tradicional por conta de sua característica mais descentralizada e por não ter regulação de nenhum órgão. Algumas pessoas que são do mercado tradicional podem ter um receio em investir neste tipo de ativo”, afirma a especialista em criptomoedas da Top Gain.

Raquel Vieira analisa que as criptomoedas foram feitas para quem tem um perfil mais libertário.“O propósito do Bitcoin é colocar o dinheiro na mão dos usuários, a moeda digital foi feita para isso sem a regulação de nenhum banco central”.