Afinal, Nubank (NUBR33) teve prejuízo ou lucro no 1T22?

Notícias sobre a fintech trouxeram lucro e prejuízo no mesmo período. BP Money explica diferença

Quem buscou informações sobre o resultado do Nubank (NUBR33) no primeiro trimestre deste ano ficou na dúvida. Enquanto alguns veículos reportaram que a fintech teria um lucro ajustado recorde, outros, como o BP Money, optaram por destacar um prejuízo líquido no balanço. Afinal, o banco digital teve prejuízo ou lucro no período?

Na verdade, o Nubank teve os dois. A empresa, porém, optou por destacar o lucro, apesar dele ser algo excepcional. Segundo analistas consultados pela reportagem, o lucro líquido ajustado, destacado pelo banco, é utilizado por empresas para dar uma outra cara ao balanço e mostrar impactos positivos que podem não se repetir nos próximos meses.

O lucro recorde informado pela fintech, de US$ 10,1 milhões, diz respeito ao lucro ajustado, que considera os ganhos não recorrentes da empresa e não leva em conta os valores destinados às reservas legais e imprevistos do ano seguinte. O valor ainda pode considerar a reserva de contingência não usada no período. 

Já o prejuízo registrado pela companhia está relacionado ao lucro líquido, que é a diferença entre a receita total da empresa e o custo total das operações. Quando essa diferença fica negativa, quer dizer que a companhia teve prejuízo. No caso do Nubank, o prejuízo líquido no 1T22 ficou em US$ 45,1 milhões. 

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— Valuation Freestyle (@valuationfstyle) May 16, 2022

No lucro ajustado, alguns dos ajustes comuns feitos pelas empresas em seus resultados são em relação à venda de algum ativo relevante ou a uma receita/despesa não recorrente.

No caso do Nubank, segundo analistas consultados pelo BP Money, o ajuste feito pela companhia mostra somente que o banco excluiu a remuneração dos executivos da conta para chegar ao número positivo de US$ 10 milhões.

De acordo com Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da SaraInvest, o lucro ajustado é utilizado por empresas para dar uma outra cara ao balanço e mostrar impactos positivos não recorrentes.

“O mercado tem que olhar para, de fato, o prejuízo acumulado, o prejuízo do resultado, de US$ 45,1 milhões. Sempre quando uma empresa quer mostrar um efeito não recorrente, algum impacto pontual, ele fala ‘vou fazer um ajuste aqui’, e aí salta de um prejuízo de US$ 45,1 milhões para um lucro de US$ 10,1 milhões. O que muda de um para o outro (lucro ajustado e líquido), basicamente, são medidas contábeis, despesas relacionadas à própria remuneração dos principais executivos, baseado em ações e alguns efeitos tributários aplicáveis a esses itens”, disse Saravalle.  

O chefe de análise de ações da Órama, Phil Soares, também destaca que o lucro líquido corrente é mais importante do que o ajustado. “Eu considero que o lucro líquido corrente seja mais relevante que o ajustado, porque a remuneração em ações é uma despesa bastante comum entre empresas do mercado financeiro, e deve continuar ocorrendo no futuro, não se tratando de um one off (algo que ocorre somente uma vez)”, afirmou.

“Mesmo assim, ambos os números (US$ 45 milhões de prejuízo e US$ 10 milhões de lucro ajustado) são irrisórios frente ao valor de mercado do banco, tamanho do balanço e sua receita”, complementou Soares.

O assessor de investimentos da Valor Investimentos, Charo Alves, destacou que o resultado do banco ficou, realmente, meio controverso para quem não acompanha tão de perto.

“A questão do lucro ajustado é uma variável que fica em segundo plano, quando a gente está comparando de fato com o resultado da empresa que deu prejuízo. O lucro ajustado é uma forma de comparar a receita gerada de stock options. A diferença de preço mesmo da ação embutido com o câmbio e benefícios fiscais, mas não reflete de fato que a empresa deu lucro. É mais uma forma de comparar as fintechs entre seus pares, mas o que indica mesmo o resultado da empresa, que é o que importa no final das contas, é o prejuízo líquido, que é a ponta final da cadeia”, afirmou Alves.

Resultados do Nubank na visão dos analistas

Os analistas consultados pelo BP Money destacaram que, apesar do crescimento de algumas frentes, o banco não reportou uma boa lucratividade, o que é o seu maior desafio. Além disso, o cenário macro deve seguir impactando o Nubank, principalmente na área de crédito.

“É um banco que vem entregando dentro do esperado. Os resultados foram bons em termos de crescimento, em número de clientes, mas realmente a lucratividade ainda deixa bastante a desejar, sobretudo para acionistas minoritários”, afirmou Savale.  

Para Charo Alves, da Valor Investimentos, o cenário macro ainda deve seguir atingindo os resultados do Nubank. 

“O crédito está mais caro, então para investir em projetos agora fica mais complicado. O risco principal que o mercado olhou é a questão da própria inadimplência. Hoje, a carteira de clientes do Nubank é 33% Brasil. O Santander, que é um banco varejista, serve como um termômetro para medir o aquecimento da economia no varejo e reportou um grau de calote muito acima do esperado, recentemente. Então, acho que é o efeito da inflação corroendo o consumo do cidadão médio, e o Nubank tem uma exposição muito grande nesse segmento”, disse. 

Veja também: Investidores do Nubank (NUBR33) devem vender ações da empresa, segundo analistas

Já Phil Soares, da Órama, destaca o aumento da receita do banco, que teve alta de 258% frente ao mesmo período de 2021, para US$ 877 milhões no 1T22. 

“Em relação ao resultado do Nubank, o banco cresceu bastante rápido, com um aumento expressivo de receita e balanço. As despesas com PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) aumentaram e a inadimplência também. A diretoria associa isso a uma mudança de mix (mais crédito pessoal), mas o entendimento do mercado é de que isso também deve sinalizar uma deterioração na concessão de crédito”, afirmou Soares, chefe de análise de ações da Órama.