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Dólar atinge maior patamar desde fevereiro com "PEC Kamikaze"; especialista comenta

A expectativa é que o dólar feche a quinta semana consecutiva de alta

O dólar segue o ritmo de alta nas últimas semanas, em meio ao crescente receio dos agentes do mercado sobre os gastos públicos. Apenas em junho, a moeda norte-americana acumulou valorização de 10,13%, no maior patamar desde fevereiro deste ano.

A valorização recente do dólar ocorre com os investidores monitorando o aumento dos riscos fiscais no Brasil, após o Senado ter aprovado proposta que libera um gasto bilionário às vésperas da eleição, a chamada “PEC Kamikaze”.

Head Offshore da SVN, Alberto Marino explicou os fatores para as consecutivas altas do dólar. A nível nacional, o especialista comentou a aprovação do governo, no qual pode comprometer o teto de gastos. 

“Em se tratando de Brasil, a última aprovação que tivemos por parte do governo pode comprometer o teto de gastos, o que por consequencia trará uma forte queda na credibilidade do Brasil em termos fiscais. Com isso, além de uma movimentação já percebida no câmbio, podemos ter reflexos na inflação e também nas taxas de juros”, explicou Marino em entrevista ao BP Money.

A proposta visa liberar R$ 41 bilhões em gastos a pouco mais de três meses das eleições. A PEC segue agora para a Câmara dos Deputados. Se aprovada pelos deputados, seu impacto nos cofres públicos pode chegar a R$ 41,2 bilhões.

Apelidada de “PEC Kamikaze”, ela reacendeu temores fiscais e de uma pressão ainda maior nos juros e inflação. De acordo com analistas, a proposta é uma forma jurídica de tentar burlar a lei eleitoral.

Além de refletir ambiente doméstico turbulento, a alta do dólar acompanhava a forte valorização do índice da moeda dos EUA contra uma cesta de rivais fortes, que se aproximava dos maiores níveis em duas décadas nesta sexta-feira em meio a receios generalizados de recessão.

Ao mesmo tempo, a maioria das divisas arriscadas ou ligadas às commodities tinha forte baixa, com peso chileno, dólar australiano e florim húngaro dividindo com o real a posição de pior desempenho global no dia.

Com a perspectiva de que o Fed (o banco central dos EUA) siga com posicionamento agressivo no combate à inflação, investidores vendiam ações e buscavam a segurança do dólar e da dívida soberana dos Estados Unidos, cujos rendimentos caíam acentuadamente diante da grande demanda por Treasuries.

O especialista da SVN também afirma que o câmbio vem sendo influenciado ainda pela ida dos recursos aos EUA e, também, pela influência do mercado do petróleo, que também vive um ciclo de alta com a guerra na Ucrânia. 

“Ao mesmo tempo, temos uma crescente nos juros americanos que poderão chegar a 3,5% até o final de 2022, com isso os dólares buscam um domínio de maior segurança, o que chamamos de ‘Fly to Quality’. A cotação do Petróleo também segue no radar como um dos motivos para a forte alta do câmbio que tivemos este mês, inclusive o de maior alta desde Março de 2020”, contou.

Importância de manter parte do patrimônio atrelado ao dólar

Marino também deu um recado aos investidores brasileiros. O especialista ressalta a importância de manter parte do patrimônio atrelado ao dólar, já que o governo terá novamente de aumentar as taxas de juros, buscando conter a inflação e também o câmbio, desacelerando ainda mais a economia nacional. 

“É de extrema importância que o investidor brasileiro possa ter parte dos seus investimentos atrelados a uma moeda forte, preservando assim o seu poder de compra se comparado a uma moeda de um país emergente como o Brasil. Vale lembrar que diversos custos do cotidiano do brasileiro já são dolarizados, e a facilidade encontrada hoje para acessar o mercado norte-americano deve ser uma estratégia e uma ferramenta a ser utilizada como forma de composição de portfólio e diversificação global”, concluiu o especialista.

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Apesar das consecutivas semanas de alta, o dólar ainda tem desvalorização de 6,14% frente ao real em 2022.