Presidente da ABAG: desafios do agronegócio sustentável

O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Marcello Brito, explica como o agronegócio sustentável pode impulsionar a economia nacional.

Em conversa com a BP Money, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), explicou como o agronegócio pode caminhar com a sustentabilidade e impulsionar a economia brasileira.
Para o presidente da associação, o maior crescimento do agronegócio nacional está ligado a duas palavras chaves necessárias, sendo elas integridade e credibilidade.

Confira a entrevista completa: 

De acordo com o último estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), publicado em março de 2021, houve um crescimento em 385% da participação do Brasil no mercado mundial nos últimos dez anos. Ao que se dá esse aumento?

Houve uma política pública de longo prazo no Brasil na questão alimentícia. Na década de 70, há 40 anos atrás, o Brasil era importador de alimentos. A gente não dava conta de produzir nem o volume que a gente precisava. Na época foi fundada a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ) e foi feito um trabalho de política pública – por isso que a gente vê a importância das políticas públicas bem formatadas. O Brasil começou sua jornada de produtor de alimentos naquela época. Hoje o país é o quarto produtor mundial de alimentos e o terceiro maior exportador mundial de alimentos. De todos os países do mundo – são 191 segundo a ONU – só 23 são exportadores, todos os outros são importadores.

Atualmente, o agronegócio representa 20% dos empregos brasileiros. Esse ano provavelmente vai representar entre 28 % e 30%  do PIB nacional. Ou seja, tem uma importância gritante. Entretanto, a gente não pode deixar de lembrar que apesar de ser um grande produtor de alimentos, nós ainda temos uma mancha que é a questão da fome. Nós temos 28 milhões de brasileiros que passam fome, segundo a classificação da ONU, e nós temos quase metade da população brasileira sofrendo com a falta de acesso ao alimento balanceado corretamente, ou seja, aos nutrientes necessários para uma boa alimentação.

Apesar da produção de alimento e fome não terem nenhuma ligação, economicamente falando, para o Brasil, isso é muito mais importante. O motivo é simples: sendo um dos maiores produtores de alimentos nós não poderíamos, enquanto cidadãos brasileiros, aceitar a situação de ver tantos compatriotas passando fome. 

É possível que ações sustentáveis no agronegócio andem de mão dadas com a economia? É comum ouvir que as alternativas pensadas para a conservação do meio ambiente chocam com os interesses econômicos. Esse seria de fato o único caminho ou é possível mirar em pautas sustentáveis que também refletem no desenvolvimento econômico do país?

Nesses últimos quarenta anos, a área cultivada no Brasil, com agricultura, cresceu em torno de 70% e a produção de alimentos avançou cerca de 380%. Então isso mostra que teve um crescimento de produtividade muito grande, muita tecnologia, muita inovação acoplada. Se no passado a realidade foi a substituição de florestas para áreas de cultivo, no presente o desmatamento de mancha a imagem do Brasil no mundo não é feito para o agronegócio. 

Já há vários anos o agro vem crescendo sob área de pasto e tem uma área de pasto no Brasil. Hoje são cerca de 70 milhões de hectares para agricultura e cerca de 180 milhões de hectares com pasto pecuário. Logo, é nesse espaço que o agro tem crescido. 

Existe uma série de tecnologias que podem ser utilizadas no melhor manejo de produção, eu cito aqui: integração lavoura pecuária floresta, sistemas florestais, agricultores regenerativos, agricultura orgânica e plantio direto, que foi uma inovação brasileira. Ou seja, todas essas tecnologias foram desenvolvidas aqui no Brasil. Isso nos dá certeza de que podemos e devemos continuar crescendo na produção de alimentos, mas ao mesmo tempo precisamos combater a criminalidade e a marginalidade que ataca integrada à Amazônia. O Brasil é o único país do mundo que pode ser taxado de uma grande potência agroambiental. Esse é o nosso caminho, se a gente fizer com inteligência.

No início deste mês foi regulamentada a CPR Verde. Qual será o impacto mais importante que essa regulamentação proporciona para o agronegócio brasileiro?

Infelizmente ainda sou cético com ela, porque se você pegar as regras da CPR normal e olhar a CPR Verde, você vai ver que praticamente é a mesma coisa, tem três ou quatro artigos que complementam essa lei. Mas só vou explicar coisas muito importantes, como por exemplo, se você vai vender uma área e pretende obter pagamento de serviço ambiental, duas coisas são importantes: a primeira chama a integridade do processo e a segunda chama credibilidade do processo.

Quais são os critérios de conservação utilizados para que você possa vender o PSA [pagamento de serviço ambiental]? É baseado em carbono, é base de biodiversidade, é baseado em que? É carbono acima do solo, é carbono na parte do solo. É um de dez anos, de trinta anos? Tem uma série de respostas e todas são muito importantes por fecharem essa dupla e creio que nós não conseguimos encontrá-las na CPI. Então, nossa torcida é a existência de alguma regulamentação, alguma coisa que venha depois, pois da forma como está não vai ter impacto. 

O que é o carbono verde e qual a importância dele para a economia?

Nossa, essa tem uma importância gigante. Nós vamos ver uma transformação tão grande, caso tenhamos sucesso nas negociações da COP. Por exemplo, o código florestal brasileiro foi aprovado em 2012, vai fazer dez anos em 2022. Até hoje ele não foi implementado. Nós temos um código florestal no país que ainda não foi implementado, cerca de 5% de implementação não foi estabelecido porque não existe pressão sobre isso. O problema é que se o COP der certo, para que a distribuição de carbono seja validada, será necessário as duas palavras citadas anteriormente: integridade e credibilidade.

A justificativa é que se não houver o seu processo legal concluído, não haverá como se colocar como um dos candidatos a partícipe desse mercado de cargo, de pagamento de serviço ambiental. Portanto esse pode ser um game changer para o Brasil fantástico, porque nenhum país tem uma oportunidade tão grande dentro do sistema agro ambiental de se aproveitar desse mercado de carbono. 

Mas, para isso, nós precisamos trabalhar o mais rápido possível para resolver os problemas de segurança jurídica que nós, enquanto cidadãos, não pressionamos nos últimos anos para que acontecesse. Se a gente quer competir dentro do mercado mundial, dentro de um mercado ESG, precisamos lembrar que  o “G” significa governança e dentro dela tem compliance, segurança jurídica e uma série de outros aspectos.