Para cofundador do Buscapé, mercado está mais concorrido do que em 2000

Romero Rodrigues bateu um papo com o BP Money e falou sobre o tipo de investimento e de como avalia o cenário atual da modalidade

Cofundador do Buscapé, Romero Rodrigues ajudou a criar o site de comparação de preços em 1999. Em entrevista ao BP Money, o gestor comparou o início dos anos 2000 com o cenário atual das startups. Para ele, o momento é de maior concorrência no segmento. 

“São mais de 20 anos de distância entre esses dois momentos. Muita coisa mudou. Em 1999, quando fundamos o Buscapé, o mercado era minúsculo, era inexistente, então era uma aposta que a internet ia crescer mais do que qualquer espaço dentro da própria internet. Hoje, o mercado é gigantesco. 170 milhões de brasileiros conectados continuamente”, explicou Rodrigues.

“A competição, de certa forma, ficou maior. Apesar de levantar dinheiro, ainda terá muitos competidores atacando para entrar no mercado. 20 anos atrás se tinha muita dificuldade para conseguir levantar o dinheiro, mas depois que levantava e construía sua tecnologia, estava em um vôo só. O mercado ficou mais competitivo, mas, por outro lado, é um mercado gigantesco mais fácil de ser atacado”, completou o cofundador do Buscapé. 

Após deixar o Buscapé, Rodrigues se tornou um investidor em venture capital e se tornou gestor da Headline. Ele falou sobre a modalidade de investimento que é focada em empresas de até médio porte que possuem alto potencial de crescimento, mas ainda são muito novas e têm faturamento baixo. 

Além disso, Rodrigues contou que tipo de empresa costuma escolher e quais os principais pontos de análise são levados em consideração para saber se as mesmas são passíveis de investimentos. 

“O mais importante é ver o time, o quanto ele é complementar, o quanto ele tem experiência no setor da economia que estão empreendendo e as características comportamentais desse time. Dose de ambição correta, saber escutar e refletir sobre os temas, saber liderar e complementar os pontos falhos trazendo gente boa ao seu redor, e fatalmente ser bom vendedor”, explicou Rodrigues. 

Confira a entrevista na íntegra:

Romero, para começar, gostaria que você apresentasse o que é o Venture Capital para os leitores.
É um investimento em startups de tecnologia de alto crescimento. A gente costuma dizer que é investir em um empresa muito grande enquanto ela ainda está pequena. Para isso a empresa precisa estar em um mercado muito grande, resolvendo uma dor importante e com um time muito talentoso de fundadores. Mais do que isso, ela precisa ter uma base tecnológica forte para conseguir crescer na velocidade que a gente precisa que ela cresça durante o período em que somos sócios dela. 

Recentemente, Jorge Paulo Lemann e Marcelo Claure afirmaram que é um bom momento para investir em Venture Capital. Como você vê esse cenário para investimento?
Concordo com eles. É algo que a gente vem observando desde o final do ano passado e tem muita base histórica. Startups muito resilientes e sólidas foram criadas em um momento do ciclo econômico de retração, que é como veremos provavelmente nos próximos anos. Desde a década de 70 com Microsoft e Apple, durante a grande recessão americana, o estouro da bolha com companhias como Google, Tesla, Mercado Livre, o Buscapé, e em 2009, também em momento de recessão, empresas como Uber, Arbnb, boa parte dos aplicativos que usamos, como WhatsApp e Instagram, foram criados nessa época. Isso acontece justamente porque, durante esses momentos de crise, as startups elas têm que ser mais inovadoras para captar dinheiro, nascem com modelos de negócios que são mais eficientes em capital, conseguem contratar pessoas talentosas mais fácil do que quando a economia está bombando e as que recebem investimento enfrentam menos competição, pois tem menos investimento em geral no mercado. Isso favorece as boas companhias e existe uma possibilidade grande de os próximos três anos serem parecidos. 

Qual o tipo de empresa que você procura e qual a diferença para uma pessoa que entra em private equity e em um Venture Capital?
As estratégias são complementares. Dentro do espaço de líquidos, venture capital vem crescendo mais rápido e ganhando mais espaço. O venture capital vai investir numa empresa de altíssimo crescimento, que crescem mais rápido do que as empresas de private equity, mas que investe em momentos em que ainda estão menores. Os ativos que são bem-sucedidos costumam dar mais retorno que o private equity. Justamente pelas empresas serem menores, o venture capital costuma ter um portfólio maior do que o private equity e admite mais erro. Você pode ter até um terço do portfólio morrendo e, mesmo assim, entregar um excelente resultado. Como já são empresas maiores em um número menor, o private equity admite menos erro e dá um bom retorno também, mas historicamente inferior ao venture capital. 

Quando você olha para a empresa, quais são os principais pontos que você observa para saber se são passíveis de investimentos? 
O mais importante é ver o time, o quanto ele é complementar, o quanto ele tem experiência no setor da economia que estão empreendendo e as características comportamentais desse time. Dose de ambição correta, saber escutar e refletir sobre os temas, saber liderar e complementar os pontos falhos trazendo gente boa ao seu redor, e fatalmente ser bom vendedor. Pode até ser um fundador tímido quando fala para o mercado, mas quando estiver falando para o seu time ou para um cliente sobre o seu sonho, aí fala com muita paixão. 

Você foi um dos fundadores do Buscapé em 1999 e atualmente se tornou um investidor de venture capital. Mas buscando um pouco das suas raízes, como você enxerga o cenário para as startups e qual a diferença para o momento atual e aquele em que você ajudou a fundar o site de comparação de preços?
São mais de 20 anos de distância entre esses dois momentos. Muita coisa mudou. Em 1999, o mercado era minúsculo, era inexistente, então era uma aposta que a internet ia crescer mais do que qualquer espaço dentro da própria internet. Hoje, o mercado é gigantesco. 170 milhões de brasileiros conectados continuamente. Outra coisa que mudou foi o mercado de investimento. Naquela época não existiam fundos de venture capital no Brasil, não existiam investidores anjo, não existiam aceleradoras, era árduo. Quando a gente começa com o Buscapé, naquela época só conseguia pegar dinheiro hipotecando o carro ou o imóvel na Caixa Econômica Federal. 

De lá para cá isso mudou completamente. Investidores em todas as fases que uma startup precisa, só no ano passado foram mais de US$ 9 bilhões colocados em startups em diferentes fases. Em venture capital foram 20%, o que é muito positivo pois esse dinheiro vem depois de venture capital para deixar as empresas ainda mais capitalizadas e maiores. Outra coisa que mudou foi que o tipo de problema que o empreendedor tem que resolver mudou. Há mais de 20 anos, uma startup tinha uma dificuldade em construir tecnologia e não por acaso as empresas eram fundadas todas por engenheiros e programadores. Ao longo desse período, muitos dos blocos básicos de tecnologia foram criados. 

A competição, de certa forma, ficou maior. Apesar de levantar dinheiro, ainda terá muitos competidores atacando para entrar no mercado. 20 anos atrás se tinha muita dificuldade para conseguir levantar o dinheiro, mas depois que levantava e construía sua tecnologia, estava em um vôo só. O mercado ficou mais competitivo, mas, por outro lado, é um mercado gigantesco mais fácil de ser atacado. 

O mercado de startups tem crescido no Brasil e hoje conta com cerca de 35 mil em operação, segundo a base de monitoramento da empresa de inovação Distrito. De que maneira você enxerga os investimentos em startups?
O mercado brasileiro reúne alguns ingredientes únicos que fazem do mercado brasileiro, talvez, um dos mercados com maior potencial para a criação de startups. É muito grande em termos de população, economia, dimensão territorial e, ao mesmo tempo, é muito ineficiente. Muita burocracia e muita dor. Isso é bom, porque muita dor significa muita oportunidade para a startup criar uma solução para essa dor. Outro ponto é a adoção da tecnologia por parte do brasileiro, que está entre as três primeiras maiores do mundo. É o segundo país mais assíduo do mundo, com maior número de horas navegadas por dia, é o país com as maiores bases de Instagram e Facebook, a cidade de São Paulo é a cidade com maior número de corridas de Uber, então essa combinação perfeita se torna um celeiro de boas ideias que contém muito potencial que está resolvendo dores importantes de um mercado muito grande.