ESG: investimento em urânio chama atenção do mercado

Apesar de ainda ser pouco explorado, a tendência é de que o mercado tenha forte crescimento com o aumento da demanda

O investimento em urânio vem chamando a atenção de analistas por conta do forte potencial de crescimento do mercado, que ainda é pouco explorado pelos investidores. Com o avanço das tendência ESG (investimentos com pautas ambientais), o urânio vem surgindo como uma alternativa interessante, por se tratar de insumo importante na produção de energia nuclear.

“Se você defende ESG e não tem exposição ao setor de energia nuclear e urânio, está perdendo tempo”, afirmou o head de educação da Liberta Investimentos.

Um passo importante para o setor no Brasil foi a criação da Energia Nuclear e Binacional (ENBpar), em setembro do ano passado, uma companhia pública organizada sob a forma de sociedade anônima vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME). O surgimento da nova empresa faz parte das regras do processo de desestatização da Eletrobras.

“Embora energia solar e eólica sejam essenciais como produtoras de energia limpa por não ter emissão de carbono, elas são dependentes de fatores naturais externos. A exploração de urânio pode acontecer de forma ininterrupta com alta eficiência”, explica o analista de investimentos da Warren, Eduardo Grübler, ao Estadão.

Além disso, a demanda pelo insumo deve disparar por conta do pacote trilionário de investimentos em infraestrutura do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O projeto abrange a atual indústria de reatores nucleares e cria uma nova agência ARPA para o desenvolvimento e a implantação de reatores nucleares avançados como prioridade, buscando construí-los mais baratos e mais rápidos por meio de inovação técnica

A pressão de Biden por energia limpa também servirá para reduzir a concorrência de usinas movidas a carvão que serão descontinuadas mais cedo, e usinas a gás emissoras de carbono.

Mas o urânio é ESG?

A energia nuclear em si não emite CO2 para a atmosfera, não contribuindo para a evolução do aquecimento global, uma das maiores problemáticas do mundo atualmente. Não ocorre a emissão de carbono pois o próprio urânio é utilizado como combustível para a ocorrência da fissão nuclear, que acarreta na produção de energia.

O grande problema da energia nuclear são os resíduos. As usinas nucleares produzem uma elevada e variada quantidade de rejeitos, que incluem o próprio urânio utilizado nos reatores e os equipamentos contaminados pelo insumo e por outros elementos resultantes das reações ocorridas. Vale lembrar que esses resíduos são altamente tóxicos e nocivos ao meio ambiente e à saúde humana.

Existe um movimento dentro da União Europeia, liderado pela Finlândia, para que o urânio receba o título de sustentável pela Zona do Euro, defendendo que o elemento em si não é perigoso.

O analista da Warren destaca que não há possibilidade de produzir energia limpa suficiente sem utilização do urânio, e a utilização do elemento é fundamental. “Existe um certo medo da sociedade em geral, em qualquer lugar do mundo, sobre as consequências. Entretanto, isso vem mudando com a aceleração tecnológica utilizada na exploração e com a percepção da eficiência dessa fonte”, completou.

De acordo com o gestor de investimentos da Warren, Igor Cavaca, o urânio corresponde a mais de 50% da produção de energia limpa no mundo e representa grande potencial de escalabilidade e eficiência.

Como investir em urânio?

Mesmo que o mercado ainda esteja em expansão, investir em urânio é mais fácil do que você pensa. Grübler explica que a maneira mais simples e direta de se investir no elemento é aplicar em empresas exploradoras de urânio. 

Porém ainda existe a possibilidade de se investir em ETFs, o mais famoso deles é o Global X Uranium ETF (URA), listado na Bolsa de Nova York (NYSE). Além do URA, o North Shore Global Uranium Mining ETF (URNM) também é um fundo reconhecido no setor, fazendo parte dos investimentos ESGs da Warren Green.

Além da possibilidade de investir por meio de ações e ETFs, a Ativa Investimentos lançou um Certificado de Operações Estruturadas (COE), no qual investe na Cameco Corporation (NYSE: CCJ) por meio do banco BNP Paribas. A aplicação inicial é de R$ 1 mil com vencimento em três anos.