Banco do Brasil (BBAS3) conta com blindagem para se tornar a melhor estatal para investir

O BB faz uso de sua ampla capilaridade em todo o País, sobretudo em vertentes sólidas da economia, e segue rentável

Com a eleição presidencial no Brasil cada vez mais próxima, os investidores passam a acelerar os ajustes em suas carteiras. Uma das grandes dúvidas que surgem é: vale a pena investir agora, como Banco do Brasil (BBAS3)?

Essa mesma pergunta vale para Petrobras (PETR4), Eletrobras (ELET3), entre outras companhias. Mas o Banco do Brasil chama atenção dos investidores por algumas razões. A variável estatal também entra na conta do Banco do Brasil como essas outras companhias, mas a instituição financeira mostra-se mais blindada frente às diferentes nuances que uma mudança governamental pode trazer.

Mesmo após a renúncia do então presidente do banco André Brandão, em março do ano passado, em meio à insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com um plano de reestruturação, a instituição não saiu dos trilhos.

A companhia faz uso de sua ampla capilaridade em todo o Brasil, sobretudo em vertentes sólidas da economia, e segue rentável, comparando-se a outros pares que são, inclusive, mais eficientes. 

Mesmo assim, o cenário precificado para o Banco do Brasil é comparável a um dos piores momentos da história brasileira. 

Desde o patamar mais baixo das ações durante a recessão do governo da ex-presidente Dilma, o lucro da instituição mais do que dobrou e, em termos de múltiplos, as ações não saíram do lugar. Nos últimos cinco anos, os papéis avançaram cerca de 5%. 

Isso significa que mesmo a empresa tendo relevante melhora operacional, continua muito barata. 

Estrutura do Banco do Brasil

 

e o investimento em ações é uma prática para o longo prazo, o Banco do Brasil conversa com essa estratégia. A instituição foi fundada em 1808 e se tornou a primeira empresa brasileira a se listar na Bolsa, em 1906.

A tal capilaridade do banco ao redor do País é resultado das pouco menos de quatro mil agências físicas separadas em 99% dos municípios brasileiros, atingindo todos os diferentes públicos e contextos regionais do Brasil.

Entendido como um agente financeiro do governo federal, o Banco do Brasil tem de cumprir o papel de banco comercial do País, oferecendo crédito a curto prazo e ajudando no desenvolvimento do País. O Ministério da Economia controla 50% das ações do banco.

O estatuto demonstra como a função do banco reside em fomentar o crescimento econômico e o desenvolvimento social e, dadas as características brasileiras, esse aspecto tem ligação direta com o PIB (Produto Interno Bruto).

Isso porque boa parte da concessão de crédito do Banco do Brasil – core business de uma instituição financeira tradicional – está alocada junto ao agronegócio, setor que equivale a cerca de um quarto de toda a economia brasileira, conforme demonstrado nos últimos resultados. 

Mais eficiente do que nunca

No quarto trimestre do ano passado, o lucro líquido ajustado do Banco do Brasil foi de R$ 5,9 bilhões.

O número foi 15,4% maior do que o reportado no terceiro trimestre, principalmente pela performance positiva da receita com prestação de serviços e baixa de 22,3% do risco legal.

Risco legal é o agrupamento do saldo das linhas relacionadas a demandas cíveis, fiscais e trabalhistas. Manter sob controle, uma vez que diminui o tamanho da margem financeira líquida, é resultado de um corpo diretivo forte e eficiente.

Na linha de prestação de serviços – amplamente questionada pelo mercado em relação à competição dos bancos digitais – o destaque em relação ao terceiro trimestre foi a linha de operações de crédito e garantias prestadas.

A concessão de crédito é uma forte vertente para o resultado dos bancos tradicionais, seja em momentos de demanda para consumo ou “sobrevivência”. 

Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), 77,5% das famílias brasileiras estavam endividadas em março. 

Com a renda corroída pela inflação de dois dígitos e o desemprego ainda em patamar elevado, esse foi o maior valor do índice dos últimos 12 anos, o que indica que boa parte do endividamento tem relação com os gastos ordinários da população. 

A receita com cartão de crédito também cresceu no Banco do Brasil – alta de 11% em comparação ao terceiro trimestre e de 16,5% na base de 12 meses. Segundo o CNC, 87% das famílias endividadas tinham dívidas com essa modalidade, que é a mais custosa.

A carteira de crédito do banco, com isso, cresceu 7,4% na comparação com setembro de 2021, para R$ 874,9 bilhões. Tanto na base trimestral como na anual, todos os segmentos foram fortes. 

 

Os resultados positivos da empresa conseguiram superar a queda de 5,4% na relação trimestral.

Nesse sentido, a variação negativa é explicada pela alta de 34,5% das despesas financeiras. Do outro lado, as operações de crédito voltaram a ajudar com a receita financeira (+14,8%).

No cenário acumulado, o crescimento é resultado da melhora nas receitas de operações de crédito e de tesouraria. Do ponto de vista do resultado financeiro do banco, vale a pena ressaltar que as despesas financeiras, de captação comercial ou institucional, são influenciadas pelo movimento de elevação da taxa de juros no Brasil. 

Margem financeira é o saldo bruto da operação bancária de intermediação financeira. Isto é, a diferença entre o custo de captação de junto a clientes por meio de depósitos e a taxa cobrada por meio de empréstimos. 

Com o ciclo de alta da Selic chegando a seu fim e reprecificação da carteira em curso, é esperado uma melhora do spread para 2022. Esse é um dos principais chamarizes do Banco do Brasil. 

Um ponto positivo e pouco comentado pelo mercado é a busca incessante do banco pela eficiência operacional, já que emprega cerca de 100 mil pessoas e precisa fazer frente à agressiva concorrência. 

Em prol da eficiência energética, o Banco do Brasil tem instalado soluções de IoT (internet das coisas) para o monitoramento do consumo de energia em 298 agências no País. O número equivale a apenas cerca de 7% das agências totais, mas o banco já visa economizar 15% em despesas com energia.

Nesse sentido, a companhia tem dado preferência para atendimento especializado por meio de agências digitais, com investimento gradativo enquanto o número de agências tradicionais diminui (redução de 10,9% em 12 meses). 

O corte de despesas – vide o plano de reestruturação proposto no ano passado – tem por objetivo diminuir a diferença do banco para os demais players em termos de rentabilidade.

O ROE (Retorno Sobre Patrimônio Líquido) ajustado do BB fechou o ano em 14,8%, aquém do que Itaú e Bradesco entregam aos investidores.

Projeções mesclam conservadorismo com opcionalidades

As projeções corporativas do setor bancário passarão a ser colocadas à prova ao longo das próximas semanas, com a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2022. 

O guidance apresentado pelo Banco do Brasil para este ano é conservador do ponto de vista de crescimento da carteira de crédito, acompanhando a provável desaceleração econômica do país. 

O BB espera que sua carteira avance de 8% a 12% em 2022, ao passo que bancos como o Itaú (ITUB4), no Brasil, e Bradesco (BBDC4) esperam que suas carteiras de crédito avancem entre 11,5% e 14,5% e entre 10% e 14%, respectivamente.

Isso ocorre mesmo com o Banco do Brasil tendo números relacionados a crédito não produtivo melhores que de ambos bancos. O índice de inadimplência acima de 90 dias é de 2,3% no BB, ao passo que de 2,5% no Itaú e 2,8% no Bradesco.

Por outro lado, a companhia espera que sua receita com prestação de serviços cresça numa ordem de 4% a 8%, bem acima de ambos os concorrentes privados. 

A tendência é que a receita com conta corrente continue em baixa, mas a administração de fundos tende a ter boa performance. Vale lembrar que a BB DTVM é a líder da indústria de fundos de investimento do Brasil, com mais de R$ 1,4 trilhão sob gestão.  

Com a inadimplência em vias de crescer em toda a indústria, colocando o cenário mais negativo para os grandes bancos, o BB deve ser o destaque do setor no primeiro trimestre deste ano, mais uma vez. 

Banco do Brasil tem blindagem durante períodos voláteis

Em setembro de 2021, o Banco do Brasil foi incluído pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, numa “fila” de estatais que deveriam ser privatizadas nos próximos 10 anos. 

As desestatizações são alvo do governo de Jair Bolsonaro desde o início de seu mandato — embora pouco, ou quase nada, tenha sido realizado nesse sentido. Da mesma forma, o BB também acompanha o ruído político.

Em anos de eleição, esse ruído se torna ainda mais audível para a maior parte do mercado. O viés corporativo bancário, altamente regulado pelo SFN (Sistema Financeiro Nacional), com carteira de crédito robusta e governança em linha com altos padrões, faz com que seja esperado menor volatilidade das ações do BB à Petrobras e Eletrobras, por exemplo.

A volatilidade e os ruídos de mercado na maioria das vezes, contudo, têm pouca relação com o valor das empresas em si. O componente estatal é presente no Banco do Brasil e não há perspectiva para que se mude.

Banco do Brasil: vale a pena correr o risco?

Por mais que seja uma instituição estatal, o BB é uma instituição que coloca o cliente em primeiro lugar, o que é um é check positivo do ponto de vista de experiência do cliente. Com mais usuários satisfeitos, o chamado LTV (life time value) dos clientes com o banco é maior.

Na App Store, loja de aplicativos do sistema operacional da Apple, o BB tinha 2,4 milhões de avaliações, com nota média de 4,7 (entre 0 e 5). O Nubank, com cerca de quatro vezes menos avaliações, tinha a mesma nota (no dia 25 de abril). 

Já no que se refere aos múltiplos do Banco do Brasil, eles são inegavelmente chamativos. 

Bem abaixo dos demais players do setor, o preço do banco em relação à sua geração de margem com risco moderado não só é atrativo do ponto de vista do tão famoso múltiplo P/L (que tem o menor dentre os bancões), mas também em crescimento.

O CAGR, sigla em inglês para taxa de crescimento anual composta, de lucros dos últimos cinco anos é de 22,74%, enquanto o Itaú aumentou seu lucro em 4,35% na mesma base comparativa; o Bradesco, 4,17%; e o Santander, 15,38%.

A rentabilidade – ou lucratividade – passada não é a garantia de repetição no futuro, mas as estruturas criadas pelo Banco do Brasil pavimentarão a estrada para os próximos anos, independentemente do governo que estiver à frente do país.

Isso não significa que uma mudança de viés a cada quatro anos seja positiva para qualquer que seja o modelo de negócio. Por isso, o investidor deve ponderar o risco político na tese de investimento, por mais que seja pequeno.

Investir em estatal somente se ela for de graça é uma questão que somente cada investidor poderá responder, com base em suas expectativas financeiras, perspectivas temporais e até de entendimento moral.

Dito isso, parafraseando a famosa frase, investimento não aceita desaforo. As ações do Banco do Brasil apresentam margem de segurança suficiente para que o investidor de longo prazo consciente dos riscos assumidos possa aproveitar.