Brasil poderá perder parte do "dinheiro gringo" com EUA controlando inflação

Mesmo com mais um reajuste na Taxa Selic, Brasil deve receber menos investidores estrangeiros após nova política monetária do FED

O anúncio do FED, o banco central norte-americano, de que decidiu elevar a taxa básica de juros na última quarta-feira (4) deixou os investidores em alerta para o impacto deste aumento na economia brasileira. Analistas ouvidos pelo BP Money acreditam que o aperto monetário dos EUA não vai acabar tão cedo, mesmo com a nova taxa, que está no intervalo de 0,75% e 1%, o país terá que elevar ainda mais a sua política monetária para acabar com a inflação.

“Estamos em um momento da economia em que o real não vai conseguir manter o mesmo patamar que vimos há dois meses atrás. O mercado está entendendo que não só os EUA vão precisar manter esta taxa de juros como também subir mais do que o FED anunciou”, afirma Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

Veronese destaca também que o Brasil não vai ser o polo mais confiável para o investidor no curto prazo, visto o cenário político eleitoral que se torna o centro das atenções no segundo semestre. “Vai ser um momento em que ainda estaremos conhecendo as propostas e a política econômica do novo presidente, então provavelmente não veremos a cotação do dólar do mesmo jeito que esteve nos três primeiros meses do ano.”

Na avaliação de Vinicius Telló, sócio e head de offshore da gestora 051 Capital, a inflação brasileira pode ser impactada em caso de valorização do dólar. “Se a moeda norte-americana se valorizar devido a essa decisão do FED, os nossos preços no Brasil serão pressionados já que o dólar é balizador para tudo.”

As decisões do FED são importantes para as bolsas brasileiras. Com juros maiores nos EUA, os investidores começam a tirar o capital do Brasil e levar aos EUA em um fenômeno chamado de “voo de qualidade” pois os títulos do governo americano são mais seguros do que as possibilidades nos países emergentes.Este conceito pode levar a uma desvalorização do real perante o dólar.

Na última quarta-feira (4), o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) elevou a Taxa Selic de 11,75% ao ano para 12,75% em uma tentativa de combater a inflação no Brasil. Este é o décimo avanço seguido da Selic. 

No primeiro trimestre do ano, o País recebeu um número maior de investimentos estrangeiros. Com a taxa de juros mais alta, a moeda fica mais interessante aos investidores que buscam rendimentos em ativos mais arriscados.

A economista-chefe da B.Side Investimentos analisa que com o aumento na taxa de juros dos EUA, o Brasil perderá parte do investimento estrangeiro que conseguiu no primeiro trimestre. “Com a sinalização de que o FED será mais agressivo no seu aumento de juros, o diferencial de juros vai ser menor do que se imaginava há alguns meses atrás, o que vai mitigar a entrada do investidor estrangeiro.”

Segundo Veronese, o investimento no Brasil não fará tanto sentido, quando diversos países oferecem juros altos em meio a uma crise global.

“O investidor quer achar estabilidade”, analisa Telló. O sócio e head de offshore da gestora 051 Capital afirma que o Brasil precisa fazer a sua parte, manter as contas públicas em dia e buscar uma solidez na política fiscal e monetária.

Economia global tem cenário caótico com guerra, pandemia e inflação

O investidor encontra um momento de retração em todas as partes do globo. Além da mudança na política monetária dos EUA, a guerra entre Rússia e Ucrânia impacta os mercados e mexe com a cadeia de produção. O momento da China também não é bom, o país asiático tenta controlar a maior onda de Covid-19 desde que a pandemia começou.

“O investidor sempre precisa olhar a longo prazo, porque a tendência é de normalização na inflação dos Estados Unidos e também nos conflitos globais. É importante nunca deixar de investir”, pondera o sócio e head de offshore da gestora 051 Capital.

“O cenário é de desaceleração global na economia, estávamos saindo da pandemia, um momento que foi muito bom para alguns países como nos EUA, mas trouxe uma inflação muito forte. Achávamos que a pandemia seria desinflacionária, mas não foi, aumentou a demanda para muitos produtos junto com uma queda nas ofertas, então foi bastante inflacionária”, analisa Helena Veronese.