Casa Gucci: o que o filme pode dizer sobre empresas familiares?

A trama mostra como um grande negócio familiar quase foi ao fim devido a uma briga da mesma

Para que ainda não viu esse mega filme (sem muitos spoilers), a trama mostra como um grande negócio familiar quase foi ao fim devido a uma briga da mesma, envolvendo muito ego, amor e solidão. Entretanto, por um acaso do destino, a empresa passou a ser guiada por executivos de verdade, que fizeram ela ser listada e, atualmente, valer cerca de US$ 60 bilhões, sem nenhum membro da família Gucci ainda como participante.

A gente sempre fala que a primeira coisa que o empreendedor deve fazer é separar o CNPJ do CPF. Entretanto, nesse caso, a divisão é quase impossível e, na maioria dos casos, o humor familiar interfere na empresa e vice-versa. Segundo Antoinette Schoa, professora do MIT, a maioria das empresas familiares vê a lucratividade cair de 10% a 20% após a transição de liderança do fundador para o herdeiro. Além disso, menos de 30% das empresas familiares sobrevivem até a terceira geração de propriedade familiar, de acordo com a consultoria de gestão McKinsey & Company. Já no Brasil, apenas 30% das Empresas Familiares sobrevivem à mudança para a 2ª geração.

No filme, a gigante da moda passa por uma briga familiar, que logo depois se torna uma briga societária, tudo isso almejando o poder. O CEO e fundador da empresa, Aldo Gucci, transformou em um império, entretanto, pela briga com seu irmão, não conseguia expandir a empresa para grandes centros comerciais. Pelo seu ego, não conseguia renovar a cultura e estava perdendo espaço. Na passagem conturbada do bastão para seu sobrinho, a empresa ganhou investidores, um novo estilista, renovando-a, mas o desejo de Mauricio de apagar as memórias do tio fizeram os lucros despencar e, no seu novo caso amoroso, faziam os gastos pessoais, colocados como da empresa, dispararem. Resultado disso? Investidores enfurecidos o querendo tirar do controle. Por ironia do destino, ele é assassinado pela mãe das suas filhas que vende suas participações e a empresa agora pôde tomar o seu rumo de maneira profissional.

Entretanto, vivemos apenas o caos nas empresas familiares? Temos casos de sucesso? Claro. Porém, vale ressaltar que séculos podem ir por água abaixo em anos. Se liga no exemplo da Anheuser-Busch: a cervejaria com sede em St. Louis, que foi fundada pelo imigrante alemão Eberhard Anheuser em 1857 e se tornou um ícone americano após cinco gerações de operação familiar. (O genro de Eberhard, Adolphus Busch, foi o primeiro sucessor; daí o nome.) Em 2001, a AB tinha 52% do mercado dos Estados Unidos, entretanto, como nem tudo são flores, tudo isso foi desfeito por August Busch IV, apelidado de “Preguiçoso”, nomeado CEO em 2006, e que vendeu a empresa para a gigante estrangeira de bebidas InBev, em 2008. Agora a Budweiser, uma cerveja supostamente americana como uma torta de maçã, é vendida por uma empresa com sede na Bélgica. Deu errado? Talvez não, mas destruiu toda a cultura familiar de séculos. Mas o que vale mais, a tradição ou o dinheiro?

Nem sempre a transição de gerações é algo ruim. Temos casos interessantes como o da Marshals, a empresa que fabrica seus snacks favoritos para o dia-a-dia, como M&Ms, Snickers e Twix. Fundada em 1911, quando Frank Mars começou a vender doces com creme de manteiga em sua cozinha em Tacoma, Washington. Entretanto, foi seu filho, Forrest, quem conduziu a empresa a um conglomerado de confeitaria, onde ingressou na empresa em 1929 e assumiu o controle em 1934, após a morte de seu pai. Ele planejou a entrada no mercado PET, fazendo da Mars uma das principais  Pet-Stores no país com Iams e Pedigree. E o mais interessante, Mars ainda é 100% de propriedade familiar, entre Jacqueline, John e Forrest Jr. Mas esses três apenas têm assento no conselho e não têm função diária nos negócios, tornando o Forrest Jr. o último herdeiro do CEO. Ou seja, quem não é executivo, não está dentro do negócio.

Já aqui no Brasil, o que não restam são casos de empresas familiares. Rapidamente podemos citar negócios como Safra, Odebrecht, Arezzo, Trajano ou até mesmo a Marinho. A Arezzo, por exemplo, foi criada pelo filho que posteriormente se fundiu com a empresa do pai, a Schultz. Em outras situações, como da familia Trajano, Fred assumiu mais uma geração da empresa em momento extremamente delicado. No entanto, foi preparado e treinado para esse dia, conseguindo realizar um grande turnaround da companinha. 

Já no caso da Família Odebrecht, as transições de gerações foram marcadas por escândalos, corrupção e , consequente, uma quebra do legado, deixado por Noberto Odebrecht.

E qual a conclusão que podem tirar analisando os casos de sucesso? Os herdeiros devem ser preparados para serem executivos, ou executivos vão comandar a empresa, não é porque uma empresa é familiar que ela não vai ser profissional.