Athena Capital divulga carta semestral e aborda oportunidades no setor petrolífero

A Athena Capital divulgou a sua carta semestral “CARTA 14 – JUN/21 BRZ JUNIOR OILS: TIME TO STEP UP”, onde abordou as implicações que o plano atual da Petrobras traz para o setor, em especial para as demais empresas listadas. A gestora ainda destaca que “o referido plano é potencialmente transformador para toda a cadeia petrolífera, trazendo, em nossa visão, oportunidades relevantes para empresas e investidores”.

Ao assumir a responsabilidade de gerir recursos de outras pessoas, a Athena Capital busca identificar ótimas oportunidades de investimento, com o objetivo de proporcionar uma boa rentabilidade aos seus investidores, baseando-se na análise fundamentalista e sempre respeitando as métricas de risco. É importante ressaltar que a gestora de recursos atua exclusivamente com a gestão de fundos de investimentos.

Logo no início da carta, a gestora destaca que vêm observando o surgimento de empresas no setor de petróleo brasileiro com capacidade de execução comprovada e diante de um cenário com diversas oportunidades de crescimento e que se encontram mal refletida em seus preços de mercado. A Athena supõe que essa precificação é um reflexo do “trauma OGX” (“trauma” envolvendo a captação para empresas pré-operacionais de exploração de petróleo no início da década passada em ações como a OGX, HRT e Queiróz Galvão E&P).

“Nosso objetivo será explorar as oportunidades de geração de valor desse novo ciclo petrolífero e elucidar as diferenças em relação a cases como os da antiga OGX”, enfatiza a carta.

Diante do atual plano da Petrobras, é possível observar que muitos ativos de produção são passíveis de alienação ao longo do tempo, principalmente os ativos do pós sal.

E de maneira geral, a Athena Capital enxerga esse programa de desinvestimentos da Petrobras como um componente muito favorável, tanto para a mesma quanto para as empresas independentes do setor, “Uma verdadeira proposição winx win para as partes envolvidas”, afirma a carta.

Por um lado, a Petrobras consegue focar em ativos mais rentáveis para si e, por outro lado, olhando sob a perspectiva dos players independentes, o desinvestimento da companhia gera grandes oportunidades de aquisição de ativos com boa infraestrutura de produção, que estão em processo de declínio, pois já saíram do foco da Petrobras.

Dentre os players independentes que a gestora acredita ter mais potencial de desenvolvimento, estão a PetroReconcavo e a PetroRio.

PetroReconcavo

A PetroReconcavo foi constituída no final do século XX, com o intuito de aproveitar as oportunidades que poderiam surgir com o fim do monopólio da Petrobras. Com o atual planejamento de desinvestimento da companhia, a PetroReconcavo leva vantagem no segmento onshore.

Atualmente existem 4 ativos onshore em processo de desinvestimento pela Petrobras. Os 2 maiores ativos são o Polo Potiguar (RN) e o Polo Bahia Terra (BA) que tiveram produção em 2020 de 23,5kboepd e 17,7kboepd. A PetroReconcavo encontra-se bem posicionada para adquirir algum desses campos e, consequentemente, aumentar a sua produção de forma relevante.

PetroRio

Diferentemente da PetroReconcavo, a PetroRio não surgiu com o intuito de aproveitar as oportunidades que poderiam surgir com o fim do monopólio da Petrobras. A companhia surgiu da redefinição estratégica da HRT, uma companhia focada na atividade de exploração de petróleo.

Dentre as aquisições da companhia, podemos destacar que em março deste ano, a PetroRio comprou a participação da Total em Wahoo, passando a deter 64,3% do campo.

“Acreditamos que a companhia está muito bem-posicionada para realizar novos movimentos estratégicos de M&A ao longo dos próximos anos”, destaca a Athena, em carta.

A PetroRio participa dos desinvestimentos da Petrobras dos campos Albacora/Albacora Leste, que produziram cerca de 61 mil boepd em 2020. Caso seja bem sucedida nesse processo, a PetroRio vai conseguir mais que dobrar a sua produção atual.

Sobre a PetroRio, a Athena Capital salienta: “o mercado potencial é muito mais abrangente do que o conjunto dos ativos em desinvestimento pela Petrobras”.

Ao final da carta, a gestora explica: “Ainda assim, as duas companhias que comentamos nesta carta pertencem ao segmento de petróleo e, inevitavelmente, a rentabilidade de suas operações é diretamente relacionada ao preço da commodity, a respeito do qual não temos pretensão alguma de ter um diferencial analítico”.

“Buscamos nesta carta mostrar que a nossa tese de investimentos se apoia muito mais nas perspectivas micro das companhias e no posicionamento e trackrecord que elas construíram, que as colocam em posição única dentro do momento histórico que passa o setor no Brasil em que a principal player do segmento executa de forma acelerada sua política de desinvestimento”, conclui a Athena Capital, em carta.

Em conversa com a BP Money, o analista da Athena Capital, Antonio Jappur esclareceu alguns pontos abordados na carta.

Sobre a perspectiva do setor de óleo e gás, com a mudança da matriz energética, Antonio disse: “A mudança da matriz energética vai ter um impacto relevante no setor de O&G. O mundo passa por uma tendência à descarbonização e a transição energética é uma realidade que vai se intensificar ao longo das próximas décadas”.

“Como exemplo: As majors estão focando em investir em energias renováveis e estão assumindo metas de descarbonização. A Shell colocou metas internas para que no início do ano reduza suas emissões em pelo menos 6% até 2023, 20% até 2030, 45% até 2035 e 100% até 2050 em relação aos patamares de 2016”, explicou o analista.

Antonio também destacou a dependência energética de combustíveis fósseis no mundo: “Mas como hoje o mundo ainda é muito dependente energeticamente de combustíveis fosseis, essa transição não ocorre de uma forma tão abrupta. Inclusive o gás é essencial na transição energética para uma matriz mais limpa. Tendo isso em mente, não acreditamos em uma ruptura na demanda por petróleo olhando um horizonte mais curto de até 10 anos”.

“Como a duration do fluxo de caixa das ações que comentamos na carta é menor que 7 anos, a incerteza sobre o futuro do petróleo (depois de 10 anos) não afeta o retorno que vemos no investimento”, enfatiza.

Com relação ao diferencial da PetroReconcavo em comparação com a 3R, o analista destaca o Track record com histórico longo de boa performance e destaca o foco exclusivo da PetroReconcavo na operação onshore que minimiza seu risco de execução.

“A PetroReconcavo existe desde 1997 e tem um bom track record (operam desde 2000). Já operam a mais de 1 ano a maior aquisição que fizeram (Riacho da Forquilha) e tiveram resultados bem positivos”, esclarece.

Além de enfatizar que a PetroReconcavo faz o próprio serviço de intervenção de poços, enquanto a 3R contrata um 3º para operar, Jappur explica: “A 3R adquiriu seu primeiro ativo em 2019 e começou a operá-lo em 2020, por isso não tem histórico relevante de operação. A 3R já fez muitas aquisições (+5), mas opera apenas 1 ativo (Macau). Vai assumir esse ano a operação de vários campos adquiridos, e além de ter que entregar a melhora operacional desses ativos onshore , a empresa também comprou e está negociando novas aquisições de ativos offshore, cujo modelo é bem diferente do Onshore e exige competências distintas”.

‘”Escolhemos a PetroReconcavo por ter esse diferencial de operação (track record, foco, Capital Humano, verticalização) e consequentemente ter menor risco de execução”, conclui.

Quando questionado sobre a possibilidade da Petrobras desistir do plano de desinvestimento, o analista afirma: “Nesse caso vai diminuir as oportunidades de novos investimento para os players. A PetroRio deveria ser a menos afetada, por ter oportunidade de comprar ativos offshore das Majors no pós sal, e não só da Petrobras. Além disso, o processo de desinvestimento dos ativos onshore (foco PetroReconcavo) se encontram em estágio bem avançado (já na fase de recebimento de proposta vinculante na maioria dos casos) então a não concretização destas vendas parecem pouco prováveis”.

Por fim, Antonio comentou sobre uma possível atuação da PetroReconcavo em exploração offshore (petróleo no mar).

“Não acreditamos que a cia vá para o offshore. Não é sua expertise e ainda existe muito valor para se extrair de campos onshore no Brasil, tanto dos adquiridos como de novas oportunidades de investimento”, destacou o analista da Athena Capital.