Educação financeira

Taxa Selic: o que é e como influencia os investimentos

A taxa Selic representa os juros básicos da economia nacional, definida pelo Banco Central

Se você estiver em uma discussão sobre a economia brasileira, com certeza irá escutar sobre taxa Selic. Daí já temos uma noção da importância que essa palavrinha tem nos investimentos. 

A taxa Selic é tão importante no funcionamento do mercado que merece ser estudada e compreendida nos seus detalhes por quem está interessado em investir.

O que é taxa Selic

A taxa Selic representa os juros básicos da economia nacional. Definida pelo Banco Central, ela influencia todas as taxas de juros praticadas no Brasil, sejam as que um banco cobra ao conceder um empréstimo, sejam as que um investidor recebe ao realizar uma aplicação financeira.

A Selic tem esse nome por conta do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, um sistema administrado pelo Banco Central, criado em conjunto com a Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), em 1979, em que são negociados títulos públicos federais. A média registrada nessas operações feitas todos os dias nesse sistema equivale à Selic. 

Essas operações são empréstimos de curtíssimo prazo, com vencimento de apenas um dia, realizados entre as instituições financeiras, que têm títulos públicos federais dados como garantia.

No dia seguinte, o banco devedor paga o banco credor e tudo segue normalmente, até o fim do expediente, quando novos empréstimos são feitos para serem pagos no dia subsequente.

Devido a sua eficiência, o Banco Central resolveu adotar a Selic, em março de 1999, como a única para indicar os juros do país. Antes, o órgão usava o sistema de banda de juros, que foi extinto.

Porém, é preciso destacar que existem dois tipos de Selic: Over e Meta. 

Selic Meta x Selic Over

A taxa Selic Meta é definida nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), que acontecem a cada 45 dias. Ao longo do texto explicaremos melhor sobre o Copom. Mas é preciso salientar que aumentar, diminuir ou manter a Selic Meta depende de como esse comitê avalia riscos e oportunidades no cenário macroeconômico. 

Assim como qualquer pessoa, o governo também empresta recursos para manter sua “máquina” em funcionamento. Esse recurso é o que vai ser usado para educação, saúde, infraestrutura, além de ser direcionado para a manutenção da estrutura dos três Poderes.

Já a Selic Over é utilizada pelo mercado interbancário para o financiamento de operações com duração diária, que são lastreadas em títulos públicos federais. Na prática, todos os bancos do país são obrigados por lei a depositar uma parte do dinheiro que têm sob sua custódia em uma espécie de “conta” no Banco Central (Bacen).

Porém, como operações financeiras são realizadas diariamente, é normal acontecer de bancos encerrarem o dia com menos dinheiro que o necessário. Com isso, tomam empréstimos de curtíssimo prazo dos bancos que têm mais do que aquilo que precisam.

Assim, como os empréstimos são de curtíssima duração e o risco praticamente inexiste, a remuneração por esse crédito é baseada no quanto o governo paga de juros sobre esses títulos. Essa operação é chamada de overnight. 

A garantia para esses empréstimos são os títulos do Tesouro Nacional, de forma a reduzir ao máximo o risco – e também os juros. A taxa Selic over varia diariamente com base na média de juros paga nessas operações interbancárias. Geralmente, essa variação é muito pequena, na casa dos décimos.

O valor da Selic Over é divulgado diariamente pelo Demab (Departamento de Operações de Mercado Aberto), que é subordinado ao Banco Central. 

Como a Selic impacta na economia

O objetivo da Selic é assegurar a estabilidade da economia e evitar descontroles de preço como os que o país já viveu em décadas passadas, que causam a perda do poder de compra da moeda.

Para tentar manter a inflação em um patamar aceitável, o governo tem como principal estratégia a de influenciar a quantidade de dinheiro que circula na economia.

Quanto mais recursos estiverem disponíveis, maior a tendência das pessoas consumirem. E quando elas aumentam a demanda por produtos e serviços, é natural que os preços subam. O contrário também é verdadeiro.

É nesse processo em que a Selic aparece. Por ser a principal ferramenta do Banco Central para controlar o volume de recursos em circulação. Por isso, quando a economia está aquecida e os preços começam a subir, a taxa é elevada para conter a inflação. 

Com juros mais altos, fica mais caro tomar crédito – e não só para os consumidores, como também para as empresas e o próprio governo. Isso desestimula o consumo e ajuda a controlar os preços.

Em contrapartida, a medida também é tomada em períodos em que a inflação está controlada ou abaixo da meta. Quando há espaço, a Selic diminui, o que estimula o consumo e ajuda a aquecer a economia.

No crédito, a Selic é uma referência para o custo das linhas de crédito em geral. Quando há uma elevação da taxa, a tendência é de que empréstimos e financiamentos fiquem mais caros, ou seja, que bancos passem a cobrar juros mais altos nessas operações. Em contrapartida, quando a Selic diminui, o movimento é contrário. 

Já o impacto no consumo ocorre também por conta da questão do crédito. Com empréstimos e financiamentos mais caros, o consumo tende a diminuir, já que o custo dos produtos e serviços aumenta também. Com isso, a Selic elevada proporciona uma redução nas compras. Caso ela caia, a causa ocorre de maneira inversa. 

A Selic também impacta nos investimentos de renda fixa. Quando a taxa está elevada, oferece uma remuneração baseada em juros. É o caso dos títulos públicos do governo federal, dos tradicionais CDBs emitidos pelos bancos, das letras de crédito, das debêntures, entre outras opções.

Esses ativos tendem a ter uma rentabilidade maior com a Selic alta. No entanto, caso a taxa esteja baixa, a rentabilidade também diminui. 

Como é definida a taxa Selic

Quem define e anuncia a taxa Selic “meta” é o Banco Central, por meio do Copom (Comitê de Polítca Monetária), que tem em sua formação o presidente e alguns diretores do órgão. O BC usa suas ferramentar para conduzir a taxa efetiva o mais perto possível da taxa meta. 

O comitê se reúne a cada 45 dias para definir o valor da taxa que irá vigorar durante o mesmo período, ou seja, até o próximo encontro. As reuniões seguem um calendário definido no ano anterior e, em geral, duram dois dias.

Os membros do Copom votam sobre os rumos da Selic “meta” somente depois de receber e analisar todas as informações apresentadas nos encontros. Além disso, também devem considerar os principais riscos e potencialidades do cenário macroeconômico à frente.

Ata do Copom

Apesar de o resultado da taxa Selic sair de maneira online no mesmo dia da decisão, o detalhamento da escolha sai apenas na semana seguinte, quando é publicada a ata da reunião. Tradicionalmente, o Copom se reúne entre terça e quarta-feira de uma semana, e o documento final sai na terça-feira da semana seguinte.

A ata serve como um canal entre Banco Central e sociedade. Quanto mais transparente o órgão consegue ser, mais alinhadas estarão as expectativas do público quanto às suas decisões. Ou seja, se um comerciante confia no discurso do governo, ele se sentirá mais confortável para tomar suas próprias decisões.

Por isso, a ata explica e contextualiza a decisão que foi tomada sobre Selic. Normalmente, ela apresenta uma análise da evolução recente e também as perspectivas para a economia brasileira. Além disso, também são consideradas as perspectivas para a economia global. 

Fatores que influenciam na alta ou queda da Selic

Os membros do Copom consideram alguns fatores básicos para definir a taxa Selic. Perfil dos títulos públicos federais negociados, as pressões inflacionárias e o nível de emprego e renda da população são exemplos. 

Em relação aos títulos públicos, os juros cobrados estão atrelados ao prazo de vencimento e ao risco envolvido nas operações. Quanto maior o prazo de vencimento, mais interessante para quem vende, que aceita pagar um juro maior. 

O risco relacionado aos papéis também influencia nos juros. Quanto mais arriscada a aplicação, maior a compensação, ou maior a Selic. 

A atuação do Banco Central acontece no que se chama de “mercado aberto”. O órgão compra e vende títulos públicos federais, diariamente, aumentando ou diminuindo a oferta deles, de modo que mantenha os juros próximos do valor definido pelo Copom. 

Relação entre Selic e CDI

O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é um recurso que os bancos utilizam para emprestar dinheiro uns para os outros. Mas qual a relação entre CDI e Selic?

Ambas são importantes referências para a rentabilidade das aplicações financeiras. Normalmente, elas caminham muito próximas: a diferença porcentual entre as duas costuma ser muito pequena.

A taxa Selic não influencia somente nos investimentos. Qualquer alteração na taxa pode afetar a economia como um todo e de forma encadeada, já que ela representa também um instrumento de política monetária. 

Já o CDI tem outra origem. Os bancos realizam essas operações porque, por lei, precisam encerrar todos os dias com os balanços equilibrados e, muitas vezes, a maneira que encontram para buscar esses recursos é tomá-los emprestados de outras instituições financeiras.

Esses empréstimos também são de curtíssimo prazo, mas ao contrário das operações que dão origem à Selic, são registrados em outro sistema: o da Cetip, incorporada à B3.

Calendário Copom para 2022

Como dito anteriormente, o Copom se reúne a cada 45 dias, em duas sessões, para definir a nova taxa Selic. A divulgação ocorre na segunda sessão, sempre a partir das 18h30. 

Confira abaixo o calendário de reuniões do Copom para o ano de 2022:
1º e 2 de fevereiro;
15 e 16 de março;
3 e 4 de maio;
14 e 15 de junho;
2 e 3 de agosto;
20 e 21 de setembro;
25 e 26 de outubro;
6 e 7 de dezembro. 

Vale salientar que a ata do Copom sai seis dias após a divulgação do resultado da taxa Selic. Na última reunião, realizada em 4 de maio, o Copom decidiu elevar a Selic em 1 p.p., chegando a 12,75% ao ano.